domingo, 21 de dezembro de 2008

A SAGA DE JOÃO MULUNGU - SEVERO D'ACELINO



SAGA DE JOÃO MULUNGU

É Esta a historia historiada
De um negro Sergipano
Que em plena escravidão
Lutou nos quilombos
Para a Libertação
Sergipe Del Rey
Sergipe.Aracaju
Santo Antonio do Aracaju
Ogum
Sua Padroeira
Nossa senhora da conceição
Oshum. Saravá
Ogum Deus da Guerra
Das batalhas, Orixás
Da agricultura
Protetor dos oprimidos
Oshalá
Ogum senhor do Quilombo
Protetor dos quilombos
Xangô Deus da Justiça
1851ele nasceu
De mãe negra escrava
nas senzalas do Cotinguiba e do
brinquedo do amor
Seu nome JOÃO MULUNGU
Negro puro e forte
Não aceitou o nome
O nome do seu senhor
Mamou o leite que
banco amansou, sua mãe
mãe negra forte, lhe
reservava mais amor
João cresceu entre a
Senzala e a Casa Grande
Da cozinha pro canavial
Até aprender o um oficio
Por certo era a capina
Ou pedreiro
Negro ladino esperto e guerreiro
João era escravo de ganho
Escravo de profissão
Saía e ouvia
Ouvia e aprendia
Sabia tudo o que acontecia
João Mulungu cresceu
Sabendo a palavra quilombo
Sua fúria
Seu significado
Sua importância seu grito
De morte
Vivendo no quilombo
Para ele era ver África –Mãe
Que suas historias ouvia
Todas as noites na senzala
Pra ouvir estrelas e sentir
Java ,a guerra e batalhas
da tribo dos seus avós
O engenho, o bangüê, o açúcar
O mel, para João
Tinha gosto de morte
de saudade
Gosto de pura necessidade
Um dia João chorou
Sua mãe de peito aberto
Pelo chão se contorcia
Uma chibata do senhor
No castigo do feitor
O sangue a terra bebia.
João via que ele morria
Seu corpo rijo vingança pedia
Jurou em silencio e andou
Para a fuga, a vitória dos
Quilombos, a liberdade do chão
Clamou vingança
Exu nas estradas cobertas de cana
Rio estridente, pedindo sangue
a João. Ogum lhe mostrou os
caminhos do quilombo na ventania
de Yansã e para lê ele rumou
levando consigo a imagem
o pensamento, a coragem.
Despiu suas roupas num rio
de mudanças.
Despiu sua sombra; esperança
Despiu seu espírito: liberdade
e foi a luta contra o opressor
De sua mãe
Seu povo, raça
Sua Ancestralidade
Logo cedo já tinha
Sua tropa, seus camaradas
Companheiros de luta
Contra a opressão
Contra discriminação
Contra a escravidão
Por motivos diversos
Mas lutando contra o terror.
Nas estradas
Nos engenhos e senzalas
Tinha sua arma de guerra
Tudo que via, pegava
E assim se mantinha
E assim se provia
Andou com anda
Na África, o guerreiro
Nômade em busca de batalhas
e conhecimento
E nisso João dava batalha
Ao inimigo com conhecimento,
Pois sabia do opressor
E logo começou a organizar
Seus camaradas, as batalhas
Os quilombos e quilombos
Onde passava, sempre ganhava
Informantes e tudo sabia
Os inimigos não lhe vencia.
Andou em Laranjeiras
Santo Amaro - Maruim
Itaporanga - Capela - Japaratuba
Atacava de dia e de noite
Ensinava por onde passava
A comunidade crescia
Era líder, herói e chefe
Dos quilombos e cativos
O terror dos senhores
Seu nome seus feitos
Logo se espalhou
Até os Henriques foram
Chamados para batalha lhe dar
O som do poder
de repressão, já estava sendo
Interrompido pelo nome de Mulungu.
Sergipe Del Rey, se interrompia
Na luta pela liberdade dos escravos
E lutava para reprimir
Era o poder que se debatia
A economia da cana e do algodão
Que caia, os quilombos que se
multiplicavam.
João Mulungu
Era tido o terror do Sistema
Ameaçava com sua luta
A oligarquia o poder os poderosos
Com receio dos levantes
Que se aproximavam com o descontentamento urbanos.
O Presidente da Província
Os chefes de polícia
Os senhores de engenho
Os comerciantes
Os políticos que se desesperavam
Pelas inúmeras façanhas de
João Mulungu e bradavam
Tropas foram
Tropas voltam
Sem o João como presa.
João Mulungu passou por
Nossa Senhora das Dores
Divina Pastora e diversos quilombos
Organizou.
Muitos senhores lhe davam cobertura
em troca proteção nos engenhos e
nas estradas.
João Mulungu era Herói
Era assombração
Em parafuso, era visto e não visto
a polícia tinha respeito
ódio e devoração.
Pé branco, Socorro
Santa Rosa, Itabaiana
Brejão lhe teve por muitas vezes
Em auxílio ao Rey Menino
Porte régio, liderança.
Muitas famílias ajudaram
Na fuga do cativeiro, morto livre.
Muitas honras lavaram com sangue
Na cobrança dos opressores
Do seu povo.
Era querido e odiado por todos
O seu povo.
Em noite fria, tempo chuvoso.
Ouvia forte o relâmpago
No aviso de Shangô
Acordado ouviu
Acordado sonhou
E sonhando lutou
Lutou em África
Batalha feroz, muito sangue.
Muitas vidas.
E lutando tombou sem ferimentos
Inerte ouviu estrelas
Cantar
Exu rindo falou e fugiu
Seu corpo enrijeceu
E gritando pulou
O vento forte soprou em outra direção
E em vez de trovão os tiros eclodirão
E gritos enraivecidos, confusos.
Tomaram conta da noite silenciosa
Divina Pastora foi ao palco
Mulungu e seus companheiros
Os protagonistas da sinistra ação
A artilharia das tropas policiais
Os antagonistas do ato final em
Tragédia, em chão de perdição.
Seus companheiros feriados
Iam caindo na súbita investida.
Cinco dias e cinco noites
Um após um outro tombava
Para não mais se erguer
Muitas baixas e reforços
De toda força policial
Zumbi em Palmares
Também chorou
Na alegria da vitória
De cada inimigo que caia.
Sem munição e exausto
O cerco foi apertado
E só ele restou
Amarrado como um fardo
Mais seu porte sempre erguido
Tez sombria
Rosto calmo
Vencido, vencedor.
Arrastado para
Santo Antônio de Aracaju
Como troféu foi trazido
Muita gente se alegrou
Pois o tinha como bandido
Nas Câmaras e Assembléias
Antecâmaras e Palácios
Discursos eram proferidos
E festas: o pesadelo terminou
Nas senzalas e quilombos
As iras frustrações contidas
Nas salas das casas grandes
A euforia da vitória
E o poder mantido
Dia e noite João Mulungu
Foi exposto na cadeia
Publica como troféu de guerra.
Símbolo de força e poder
Para todos que sentissem
E vissem o exemplo da repressão
O povo via ouvia e nada dizia
Uns aplaudiam, outros com medo corriam.
No dia do julgamento
João Mulungu foi levado
A presença do Juiz e grande júri
A ordem era desmoralização publica
O líder quilombola, no perdão pelo.
Seu crime e devolução ao cativeiro
Onde seria manietado pelo seu senhor
O símbolo de luta pela liberdade
Seria o símbolo da derrota e de
Força para o poder
João Mulungu reagiu
E a todos frustrou
Deu a seu povo dignidade
De luta e para a luta
O perdão não aceitou, preferira.
A morte do patíbulo
A ter de voltar a tragédia do cativeiro.
Foi proferida a sentença
Enforcamento em praça pública
João Mulungu riu
E como um rei sutilmente agradeceu
Poucos entenderam, ele disse.
Com seu corpo, expressão.
Seu olhar e riso:
“Nunca tive a vida como contemplação de mim.
Meu povo é minha vida.
E ela se multiplica
Onde haja um negro
Aí eu estou...”a luta continua...
E continuou
Os ensinamentos e exemplos
De João Mulungu se alastraram
E perduraram até a chamada abolição
Jurídica dos cativos.
Sergipe Del Rey se apressou logo
A cumprir o decreto a fim de se
Ver livre da tragédia que se alastrava.
A Tróia Negra dos Filhos da África,
Sedentos de liberdade.
Negros que construíram o
Brasil e edificou Sergipe Del Rey.
Após a dita abolição
Uma apatia atroz
O negro marginalizado sem condições
De competir calou.
Sua Cultura – Sua luta – Sua força – E expressão – hibernou sua
África.
Sem a raiz árvore
E o negro tombou
O trovão roncara novamente
Pois relâmpago já se dá
E João Mulungu se projetará
Como já dizia o poeta “Ser Negro
é não ser somente Negro
E sentir milhões de Negros
Com a força de Oxalá”.
João Mulungu
Se projetar para liderar a luta
Pela reformulação do pensamento
A luta com a força de Ogum
A justiça de Shangô e negro vive
Sua Cultura, História e Movimento.
Na glória de seus resgatados
João Mulungu, no Panteão Brasileiro.
E um Orixá - OGUM DO COTINGUIBA.
Toca tambor
Toca atabaque
Toca agogô
Tocando rum
Salé filhos de África
No shirê para Mulungu.
Bate palmas
Minha gente
Samba e satisfação
E chegando Mulungu
Da falange de Ogum
Ogunhê
Ogum Deus das batalhas
A guerra ainda não findou
Ogum Rei das Estradas
Abre passagem para seu filho
Mulungu
Ogunhê
Bate palmas
Minha gente
Samba de satisfação
E chegando Mulungu
Da Falando de Ogum
Ogum, rê, rê, rê
Ogum jurou bandeira
Lá no Humaitá
Mulungu
Esta é uma das tantas
Manifestações da comunidade negra
Que a história esqueceu
E as histórias revividas repassam
Em busca de registro
Nas gerações que vêm.
O Negro Sergipano
Ainda não acordou, mas dá sinal.
No despertar recuperar
Sua cultura, seus Heróis, Líderes.
E Ancestralidade
Verá que a cor de sua pele
Não é bastante para encobrir
Sua cultura.
Mulato, pardo ou marrom.
A consciência de sua negritude
E sergipanidade das diversas
Culturas da África-Mãe


NOTA:


BIBLIOGRAFIA:

Conrado, Robert - Os últimos dias da Escravidão
Figueiredo, Ariovaldo - O negro e a violência do
Branco
Nele, Maria - Suje uma alternativa de
Liberdade (monografia)
_ Outros Mulungu, outros mitos
(monografia)
Santos, Lourival-Notas sobre os Gericombos de
Sergipe – licitação para grau
De bacharelado pela UFS
Fontes Primarias:

_ Projeto de Lei do vereador Araújo apresentado a câmara Municipal de Aracaju.
_ Projeto de Lei do Prefeito Municipal Apresentado a câmara Municipal de Laranjeiras.
_ Projeto Lei da Deputada Suzana Azevedo apresentado a Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe.
_ Câmara Municipal de Laranjeiras Jornais
_ A TARDE
_ Universidade Viva – 1995.

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