terça-feira, 30 de dezembro de 2008

JOÃO MULUNGU O HEROI DA RESISTÊNCIA




João Mulungu Herói da Resistência

BACURO

Há muitos anos, na época da colonização, onde os negros eram escravizados aqui em Sergipe, não se respeitavam nem as crianças, as perversidades contra elas eram terríveis, quando não lhes queimavam ás mãos e ou a boca com cocada e ou outra comida, lhes amarravam num poste qualquer para domar-lhes os ânimos buliçosos, também eram usadas como sacos de pancadas, para livrar os filhos dos Senhores dos castigos corporais, pois eles não podiam passar por nenhum constrangimentos uma vez que lhes estavam assegurada a continuidade do patrimônio, eram os sucessores dos seus pais, e por isso, quando faziam qualquer bolinagem, tinham seus sacos de pancadas para serem punidos por eles.

Era também utilizadas as crianças, principalmente os meninos, como mane gostoso, dado de presente aos meninos da casa grande, para suas brincadeiras e distrações e muitas das vezes os manes gostosos eram os brinquedos sexuais dos seus donos, que se utilizavam deles como objetos de perversão sexual, se iniciavam sexualmente, violentando os escravos manes gostosos, sobre os aplausos e conivências de todos da casa grande.

Essa situação se perdurou por muito tempo contra as crianças escravas que desde o seu nascimento eram penalizadas, não podendo se alimentar do peito das suas mães, porque estava reservado o leite para os da casa grande, quando não, suas mães eram alugadas como vacas leiteiras para alimentar as crianças de quem tinham dinheiro para pagar.

Neste ambiente as crianças viviam muitas das vezes em pior condições que os adultos, que podiam mesmo em desvantagem, se defenderem ou se vingarem dos maus tratos recebidos. Este ódio e esta mágoa infantil, crescia a cada passo de violência sofrida e clamando por reação, e esta se encaminhava a passos largos, através das constantes fugas de crianças e adolescentes dos engenhos para os matos e vez por outra, buscavam outros Senhores.

Nesta época os capatazes e capitães do mato, se esmeravam em capturar crianças e adolescentes fugidas e promover as suas entregas, pois sabiam que seriam bem remunerados, mas sabiam também que dificilmente conseguiriam captura-las se estas estivessem com os grupos quilombolas ou se estivessem em contatos com eles, pois conheciam que uma das estratégia dos quilombolas era o contatos com crianças e através delas a sua relação com os demais negros dos engenhos, como também o conhecimento das ocorrências. As crianças eram os olhos e os ouvidos dos escravos, através delas os chefes quilombolas sabiam de tudo, da movimentação das tropas , do Senhor de engenho, das manifestações de toda vida . Através dela havia a comunicação em tempo real, num bôque bôque.

Neste clima foi que João Mulungu se estruturou, investindo na sua formação para na Resistência, sobreviver aos enfrentamentos e iniciou a sua jornada, fugindo diversas vezes do engenho do seu Senhor, ora buscando outro Senhor ou o contato com grupos aquilombados, fugia porque apanhava e era extremamente maltratado, deixou a sua mãe a escrava Maria e foi para os Quilombos em terna idade.

No meio de sua vida quilombola, foi capturado e vendido ao Engenho Flor da Roda, do proprietário João Pinheiro da Fraga, agora já na adolescência e com bastante experiência de luta para sobrevivência, teve seu novo Senhor, não porque estivesse procurando, mas porque lhes deram.

João Mulungu, agora já mais tarimbado, utilizou a sua experiência no engenho para reforçar a sua liderança e logo foi identificado e respeitado por muitos escravos do engenho, é verdade que despertou a ira e o ciúme de muitos. João Mulungu era faceiro , insinuante, corpo atlético, sensual e logo despertou a paixão e o desejos de muitas escravas que o procuravam sempre que podia para os mimos de amor, mas não conseguiam amarrar seu coração, pois ele estava reservado para as lutas

As matas do engenho era muito densa e ali João Mulungu buscava o seu sossego e . a utilizava para dar guarita aos quilombolas procurados e os que buscavam pouso depois de uma longa jornada, e foi ali que conheceu os seus fieis escudeiros, Manoel Jurema e Galdino força multiplicadora do grupo que deu nova expressão á Resistência Negra Sergipana.

Ali no engenho Flor da Roda, conheceu a negra Angélica que não o perdia de vistas, talvés a mais ciumenta das suas mulheres, mas a sua autoridade nunca fora questionada e ou desrespeitada, mantinha um a boa relação de disciplina com os membros do seu grupo e com os demais grupos que se relacionava, João Mulungu mantinha a mais temida organização quilombo

Diversas vezes João Mulungu se reunia com seus companheiros e promovia uma incursão pelas Vilas, capturando mantimentos e cavalos, a moeda mais forte na época para negociar com os ciganos, que constantemente lhes procuravam e muitas das vezes se abrigava sobre a proteção do grupo, quando estavam sendo perseguidos pela fôrça policial, mais era fundamental a relação que mantinha pois os ciganos eram a ponte e a garantia de vir a possuir boas armas para os embates com a policia.

Muita das vezes essas excursões eram objeto de perseguições da policia e passavam mais de três meses nestas manobras, que muita das vezes só eram concluídas ou só tinham os finais felizes por intervenção de outros grupos que usavam de artimanha para tirar a policia do encalço do grupo de João Mulungu.

Com essas atividades paralelas, já era tido como fugitivo pelo Senhor do engenho Flor da á era tido como fugitivo pelo Senhor do engenho Flor da oda que comunicando o caso a policia, tinha garantido o seu retorno quando recapturado, mas João e seus companheiros, mantinham as matas do Flor da Roda como Quartel General, era ali a sede do seu quilombo, e o descalço dos seus guerreiro,era ali onde se refugiava das manobras, agora as fugas da policia.

O nome de João Mulungu cresceu tanto que a simples menção deixava
O pessoal apreensivo, donos de engenhos, autoridades e principalmente o tenente João Batista Banha que nutria o maior ódio ao quilombola, tendo em vista as dores de cabeça e as canhotas de que era vítima por não conseguir capturar João Mulungu.

João Mulungu foi transformado em objeto e agente na luta contra os opressores, seu nome era muitas das vezes utilizados para garantir feitos e ou para encobrir manobras de opositores, estratégica utilizada por políticos, senhores de engenhos e pela própria policia, quando queria atingir alguém, a mando dos senhores de engenhos e de políticos. Atacavam usando a estratégia do grupo de João Mulungu e deixavam falsas pista que identificaria o quilombola com o depoimentos das suas vítimas.

Por diversas vezes João Mulungu foi acusado junto com os seus companheiros de ter praticado crimes, roubos, invadido fazendas, queimado e destruído plantações. Essas acusações caluniosas lhes deram bastante dores de cabeça e aceleraram suas incursões em outras Vilas, fugindo das tropas, mas em todas as Vilas visitadas só lhe renderam amizade o que irritava a repressão que o vendia como o terror da Capitania e deixava o Tenente João Batista da Banha em maus lençóis.

João Mulungu e seus companheiros fez incursões em todas as Vilas da Capitania , percorrendo de norte a sul toda a extensão do pequeno território convivendo com ciganos, índios, portugueses, escravos, forros, libertos, perseguidos enfim, o quilombo era expressão de liberdade e a levava em suas ações itinerantes onde que fosse, um libertário,perseguido e perseguindo o modo de bom viver

Com diversos processos crimes para responder,seguia em frente na sua luta, promovendo seus manifestos, junto com os companheiros e sempre retornava a Flor da Roda, sem saber que ali seria a sua perdição pela traição de um escravo do engenho enciumado, pela preferência de Angélica e pelo poder de liderança de Mulungu, o Severino, escravo do engenho, sabedor da chegada do grupo e da sua localização , e sabendo da diligência do agora Capitão João Batista da Rocha Banha, procura –o e denunciou a sua localização, era 11 horas da manhã do dia 19 de janeiro, João Mulungu e seus companheiros, descansando á sombra dos bananais do engenho Flor da Roda foram capturados e conduzidos para a Vila de Divina Pastora.Tendo a Igreja como cárcere onde fora violentamente interrogado e torturado pelo delegado responsável pelos autos.

Como era de se esperar os dividendos políticos da prisão de João Mulungu, aguçou a muitos, dos policiais ao Presidente da Província anunciou que havia acabado os quilombos em Sergipe, pois que o seu terrível chefe, havia sido enforcado naquela data. O que não condisse com a verdade, pois por muito tempo tramitou a ação jurídica de João Mulungu, sendo transferido de uma Vila para outra e por fim, anunciado a sua sentença e dos seus dois companheiros, sentenciados as Galés, certamente que foram mandados a cumprir pena na Bahia, como era de costume na época. O certo é que João Mulungu não permaneceu por muito tempo na Bahia, deve ter estendido a sua experiência as lutas dos negros e se insurgido contra os opressores, formando outro grupo de resistentes quilombolas.


Severo D’Acelino

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