domingo, 21 de dezembro de 2008

JORNAL UNIVERSIDADE VIVA 1995



HERÓI NEGRO É REAVALIADO

Eugênio Nascimento


João Mulungu, apontado até agora como o maior herói negro de Sergipe, começa a ter o seu papel questionado. Não se pretende apagar sua importância histórica, mas já se combate o mito através de pesquisas como a que vem sendo realizada pela professora Nelly Santos, do departamento de história da Universidade Federal de Sergipe.

Segundo ela, Mulungu não agiu como um “libertador”, mas sim como um “fujão” que deu muito trabalho aos donos de engenhos, fazendas e a justiça. Nelly Santos aponta outros negros que durante o período da escravidão agiram de formas reconhecidamente heróica e destaca o papel de um branco- Francisco José Alves- como o grande abolicionista sergipano.

A reavaliação da professora surge em um momento oportuno.
Este ano o país comemora 300 anos do maior líder negro, Zumbi dos Palmares, e observa que tanto tempo depois da morte dele, os preconceitos, discriminações e o racismo ainda são muito fortes, apesar de disfarçados.

O mito João Mulungu, apontado por alguns pesquisadores e militantes do movimento negro como o maior herói negro de Sergipe, começa a cair por terra.A sua importância histórica é reconhecida, mas há exageros últimos anos, apontando-o principalmente, como um “libertador de escravos”.

Uma pesquisa que está sendo realizada pela professora Maria Nelly Santos, do departamento de história da Universidade Federal de Sergipe, mostra Mulungu como um “fujão”, e “saqueador”, que deu muito trabalho aos “donos de escravos”, mas desconhece que ele tenha executa a tarefa heróica de libertador que hoje é atribuída.

Segundo a professora, criou-se uma série de fantasias em torno dele, mas “o seu papel histórico no período da escravidão não pode e não deve ser negado”. Na pesquisa que vem realizando nos arquivos públicos e do poder judiciário, Nelly Santos detectou que a participação de Mulungu em saques e as suas fugas lhe rederam muita fama.

Nascido no município de Itabaiana, e não em Laranjeiras, como foi muito divulgado, ele conseguiu fazer fama quando entre 17 e22 anos deixa a companhia da mãe, Maria, escrava de José Inácio do Prado proprietário do engenho Quindonga, e inicia um processo de andança que termina, em sua primeira fase, em Laranjeiras. Lá passa a ser escravo do engenho Mulungu, de João de Pinheiro Mendonça, onde sofre torturas e espancamentos que motivaram anos depois as duas primeiras fugas. “Ele fugiu não pensando em se tornar um homem livre e trabalhar para libertar os demais negros, mas sim para buscar um novo senhor”, explica a professora.

Recapturado nas primeiras aventuras, Mulungu volta ao engenho de Mendonça e sofre as conseqüências do seu ato. Revoltado, foge pela terceira vez em 1868 e fica por oito anos promovendo andanças e saques até ser preso em 1876 pelo capitão João Batista da Rocha Banha, o “João Banha”, que, conforme as fontes pesquisadas, trata-o como um bandido. A prisão acontece no engenho Flor da Roda, em Laranjeiras.

Antes de sua prisão, Mulungu teria praticado delitos nos municípios de Itabaiana, Capela, Divina Pastora, Japaratuba, Laranjeiras, Rosário do Catete e Aracaju. Em alguns, chegou a ser submetido a julgamento e foi condenado por homicídios, espancamentos, saques, etc. A justiça o classificava como um elemento perigoso.

Alguns pesquisadores dizem que no presido o “herói” negro resolveu se enforca pare não ter que retornar a condição de escravo ou para outros, para evitar a pena de morte . Não há informação sobre esse fato.
Mulungu, na época de sua morte era moço tinha poço mas de trinta anos, e nenhum documento da o indicativo do enforcamento por quaisquer motivos já revelado” diz Nelly Santos.

NOVOS LÍDERES

O papel de atuar como libertador que Mulungu não cumpre, apesar de alguns militares do movimento comparem-no a Zumbi dos Palmares, executado por Frutuoso, Laureano, Dionizio e Saturnino. Os dois primeiro tem atuação destacada nos anos 70 e os outros dois nos anos 80 do século passado.

Os quatro novos heróis invadem fazendas e engenhos e libertam escravos, prendem escravocratas e demonstram uma atuação mais intensa pensando de forma coletiva, no conjunto, coisa que Mulungu não fez e tem ações individualistas, segundo a pesquisadora.

“O próprio Mulungu, em um de seus depoimentos chega a afirmar que praticava saques, mas não libertava escravos. A fama que conseguiu esporos demais João Mulungu, que passou a se acusado por tudo que acontecia mesmo não tendo qualquer envolvimento”.

Com a aprovação da Lei do Ventre Livre, em 28 de Setembro de1871, as fugas de escravos se tornam intensas ate a Abolição da escravatura pela Princesa Izabel através da Lei Áurea, datada de 13 de Maio de1888.

Neste período são registrados muitos conflitos entre negros e brancos em todo pais, alguns dos quais, em Sergipe terminam na justiça.


UM HEROI BRANCO

Além de enfrentar a rebeldia e as fugas dos escravos, os senhores de engenho tiveram que enfrentar a oposição radical de Francisco Jose Alves ,um descendente de português que atua como abolicionista em Sergipe.
Ele mantinha dois jornais –o Libertador e o Descrito –como trincheira de luta com os escravos.

Nos anos 80 os dois jornais, funcionavam como órgãos de comunicação alternativos, denunciavam os abusos praticados por donos de escravos e eram utilizados até mesmo para libertar negro presos e conseguir certas de alforria. Há índios, segundo Nelly Santos, de que Alves libertou mais escravos que o fundo especial criado pela coroa para adotar tal iniciativa.

Ele era um homem de caráter, um destemido. Matinha em sua casa em Aracaju uma escola para alfabetizar os filho de escravos. “Francisco Alves realmente luto pela abolição da escravatura e o seu papel tem que ser reconhecido”, comenta.

Francisco Aves também recebia em seus escravos fugitivos e os alimentava. Antes de ingressar na luta contra a escravidão, era militante do partido Conservador. Depois torna-se liberal. Ele nasceu em 1825 em Itaporanga D’ajuda e morreu em Estância, em 1896.

QUILOMBOS

Sempre que se pronuncia a palavra Quilombos de imediato se associa a palmares, o maior e mais importante foco de resistência magra do país, que durol de 1600 a 1695 na região serrana de alagoas e abrigou milhares de negros que fugiam das fazendas e engenhos.

Mais Sergipe também teve os seus quilombos. Os principais ficavam localizados nos municípios de Capela, itabaiana, Divina Pastora e itaporanga D Ajuda. Os focos de resistência dos escravos fugidos não eram fixos Os quilombolas (moradores dos quilombos) se mudavam bastante.
As mudanças eram adotadas por questões estratégicas, para evitar que os quilombos normalmente abrigavam vários mocambos (locais em que pequenos grupos se estabeleciam uns próximos aos outros) como uma média de cinco pessoas em cada, diz a pesquisadora.
Nelly Santos está realizando estudo sobre a escravidão no agreste sergipano no período de 1888 e não gosta de utilizar a palavra quilombo ao referir-se aos focos de resistência. A expressão quilombo era utilizada pela policia, os negros usavam o termo rancho, explicar.

A escravidão no Brasil começa em 1538 e em Sergipe o inicio acontece cerca de 15 anos após. No auge, o numero de escravos chegou a superar 16 mil.



Jornal Universidade Viva, Outubro de 1995.

Um comentário:

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