domingo, 21 de dezembro de 2008

NOTAS SOBRE QUILOMBOS EM SERGIPE




NOTAS SOBRE QUILOMBOS EM SERGIPE
Lourival Santana Santos*


INTRODUÇÃO

Segundo Antonil, os escravos são as mãos e os pés dos senhores de engenho, porque sem seria possível conservar e aumentar fazenda nem ter engenho corrente Essa frase de Antonil, explicita de forma notável a importância do trabalho escravo para a economia colonial. No Brasil –Colônia, praticamente, todo trabalho principalmente o agrícola, buscou-se na mão-de-obra escrava.


Após o resgate na África de forma violente vinham para trabalhar de sol a sol. Os castigos corporais eram, comuns, permitidos por Lei, ate pela própria Igreja. Esse comportamento verificou-se em todo o período da existência da escravidão do Brasil.


Em Sergipe os cativos eram provenientes, principalmente, das praças da Bahia. No ano de 1802 a população escrava na província antigia a casa de 19.434, em 1819 eram 26.213, subindo em l823 para 32.000 indivíduos, distribuídos em vários pontos da Província. Em l834 atingia a soma de 47.812. As vésperas da abolição a população negra atingia apenas l6.888. Esse declínio de deveu, alem da abolição do trafico negreiro, a exportação de escravos para o sul cafeeiro e as Leis abolicionistas.


Neste trabalho propomos a observar o desenvolvimento dos quilombos em Sergipe, considerando quilombo a formação de escravos prevista na resposta o rei de Portugal ao Conselho Ultramarino, de 02 de Dezembro de 1740.
“Toda habitação de negros fugidos que passem de cinco em parte despovoada, ainda que tenha ranchos levantados nem se achem pilões neles”.



Nossa tentativa de analise não ultrapassara o nível dissertativo, limitando-se a descrição das fugas e perseguições impostas pelas forças policiais, principalmente a partir da década de 1870.

A natureza desse trabalho, surgiu pó não existir em Sergipe nenhum trabalho que abordasse somente a questão dos quilombos, e sim realizam uma abordagem somente a questão dos quilombos e sim realizam uma abordagem geral sobre o negro. Naturalmente que o estudo sobre o negro em Sergipe não e uma questão inabordada. Trabalhos foram desenvolvidos por pesquisadores como, Luiz Mott, Ariosvaldo Figueiredo e as bacharelas Josefa Elina Souza e Josefa Perpetua de Carvalho Lima.

Entretanto, algumas questões impor-se-ão por força da própria natureza do estudo qual a tática de luta dos quilombos de Sergipe O que explica a fuga dos cativos. Por que essas fugas tornam-se mais freqüentes a partir da Lei do Ventre Livre.

Para elaboração desse trabalho, foi feito um levantamento de fontes primarias existentes no Arquivo Publico do Estado de Sergipe, instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. As principais fontes pesquisadas foram: relatórios do governo (Presidentes da Província) e os fundos G1 e SP1, referentes ao assunto.



GUERRILHA E PERSEGUIÇAO POLICIAL

Deste o Séculos XVII, TEMOS Noticias da existência de quilombos em Sergipe. Após a guerra contra os holandeses, os negros sem a rígida fiscalização no período da guerra, “abandonaram as fazendas e reúne-se em mocambos”.

Em decorrência das comunicações recebidas referentes a existência de quilombos na província do Governador Geral do Brasil, por ato de 222 de janeiro de 1662, ordenava que “todos os negros porventura aprisionados deviam ser trazidos para Salvador, salvo os que forem moradores da mesma capitania(Sergipe)”.

No ato é baixado nesse mesmo ano designado o capitão de campo, Francisco Rodrigues, para “liquidar quilombos de Sergipe”. Sem resultado concretos, novo decretos é baixado,desta vez dando prioridade ao capitão do campo Fernandes Madeira,para “destruir mocambos de negros fugidos que havia por aquelas bandas(Itabaiana)”.

No final da década de 1670, o capitão-mor, Fernão Carrilho, destrói mocambos na Província, antes de ser chamados para combater em Palmares. Os mocambos ou quilombos desse período foi uma resultante da guerra. Mas somente a partir do século XIX esses redutos negros começam a ser destacar, ou porque foram mais constantes, ou porque a documentação preservada permite a constatação de sua existência, surgindo em vários pontos da Província como: Laranjeiras, Capela, Japaratuba, Rosário, Divina Pastora,etc...

Em inícios do mês de abril 1848, corriam boatos de que os escravos de vários engenhos se organizavam para revolta geral a rebentar em vários pontos da província.Tenho conhecimento dessa revolta, o delegado de Socorro relata ao chefe da polícia:
“ Uma insurreição de escravos no dia 17 do corrente a cometer diferentes pontos dessa Província, e conhecendo as tristes conseqüências que se poderão seguir (...) do Governo exijo auxílio de 50 praças (...) e cartucharia que fosse possível afim de eu aqui possa fazer armar toda a guarda nacional”.

Da mesma forma, o delegado de Capela comunica que nos últimos dias tinha aparecido boato na vila, “anunciando a insurreição de escravos a população aterrada por faltar forças para repelir”.

De acordo com os comunicados dos delegados municipais, Os locais de reunião eram os engenhos Poxim, São Francisco e São Pedro. Os cativos tinham como ponto de apoio o engenho gameleira, do Capitão Jose Francisco De Meneses. Os revoltos seguiram o seguinte plano: invadiriam as vilas e, depois de matarem todos os brancos e atearem fogo nas casas passariam atacar os engenhos. Deveriam então seguir para a Serra De Itabaiana, onde ai preparariam a defesa.
Para a classe dominante, a rebelião era perigosa e devia ser combatida. A aliança com o Estado não se fez esperar. Assustado com as denúncias, o Presidente da Província deu ordens para que todos os delegados realizassem buscas e, apresassem os escravos nas senzalas dos engenhos onde fossem encontradas armas de qualquer tipo.
Em Itaporanga. O suplente de delegado Liberato Antonio da Costa Lobo, acompanhado de mais da metade da força de linha, sob o comando do alferes José Joaquim Pereira Mattos, dirigiram-se na madrugada do dia 13 de Abril para o engenho de Roma. Após o cerco, deram as buscas necessárias sem no entanto lograr êxito. Essa revolta abortou no seu nascimento.

Com o exposto acima o que pudemos observar foi que os insurretos nesse momento, já pretendiam se organizar em quilombos, na medida em que fugiriam para Serra de Itabaiana para preparar a defesa. Como essa revolta abortou, não constituíram focos de resistência. A partir da década de 1860, começa a desenvolver-se mais amplamente o quilombo em Sergipe, atingindo seu ponto culminante a partir da Lei do Ventre Livre.

No dia 18 de Dezembro de 1863, quilombolas de Rosário, localizados nas matas das Urubas, próximo ao termo de Santo Amaro, atacavam um escravo de nome Firmino. No dia seguinte tomaram uma carga de farinha de um feirante que vinha de Maruim, também foi atacado o cidadão Francisco José da Costa, perdendo no assalto uma porção de fazendas. O delegado de polícia de Santo Amaro, frente aos fatos ocorridos, comunica ao chefe de polícia que essa onda de assaltos tem amedrontado “ao povo especialmente dos sítios (...) tenho feito recomendações aos inspetores de quarteirão mas vejo que não tem eles suficiente força de armamento para prender esses negros (...) não sabe de que número é o quilombo e o lugar certo onde estão acoitados. Acho conveniente que se tome medidas enérgicas, fazendo-se dispêndio com espias e tendo força pronta para ataca-los”.

A característica marcante dos quilombolas de Sergipe, foi aa guerrilha. Os escravos faziam contínuos deslocamentos, atacando estradas e roubando produtos para garantia da sobrevivência.

Para conter a onda de violência, fez-se uma diligência, sem êxito. Os quilombolas, sempre informados pelos escravos dos engenhos sobre essas diligências, conseguiam burlar esforços das autoridades.

Em 28 de Setembro de 1871, a Lei do Ventre Livre, dava liberdade a todos os filhos de escravos nascidos a partir daquela data. A partir dessa Lei, observa-se em Sergipe mais tendência dos escravos aa fugirem e a se constituírem em quilombos. Interpretavam a Lei como se fosse uma lei abolicionista, abrangente a todos os cativos. Sentindo que ele não atendia a suas aspirações ou seja, a liberdade, as fugas dos engenhos tornam-se continuas em vários pontos da Província, o que levou o Presidente Luiz Soares D’Azevedo Maceió a declarar:
“Alguns dos escravos mal aconselhados, e influídos na falsa idéia de que se acham de todos livres do cativeiro pela Lei N° 2040 de Setembro, e que não gozam da sua liberdade, porque seus senhores a isso se opõem, se tem refugiado nas matas e reunidos em quilombos, saem de vez em quando dos seus esconderijos e pelas povoações e pelas estradas cometem roubo, espancam as vitimas de seus latrocínios, e já algumas mortes tem cometida. O susto e a desolação tem assaltado o povo, que vê em perigo a sua vida e a sua propriedade, e com instancia se pede ao governo, remédio para tão grande mal.

No final do ano de 1871, uma força de 30 praças comandados pelo alferes Mathias Jose dos Santos, deu num quilombo nas terras dos engenhos de Jardim e Coité, prendendo quatro escravos . Em Laranjeiras os quilombolas se refugiam nas matas dos engenhos Brejo e São Paulo. As pessoas das mediações por conta própria realizavam diligencia conseguindo prender dois escravos. Em Rosário, sob o comando do juiz Municipal, partiu um a força para desalojar negros fugidos, como resultado, um ferido e um morto, da parte dos quilombolas.

O chefe da policia da conta ao Presidente da Província;
“A comarca de Laranjeiras tem sido vitima de roubos e violência de um bando de salteadoras e escravos , tendo sido ultimamente vitima de grave ferimentos e roubos feitos no engenho Cafuz o cidadão Jose Bernardo (...) O terno de Rosário e igualmente por outro bando de salteadores e escravos fugidos”.


No dia 02 de Fevereiro de 1872, os habitantes de Patioba, termo de Japaratuba, cercaram uma casa para prender dois quilombos. Dobrado o cerco, a nova fuga dos escravos fez o jornal de Aracaju declarar na sua edição de 05 de Fevereiro;

“Continuam ousados os quilombolas a despeito das serias providencias que se tem tomado para extingui-los, convém redobrar os esforços nesse sentido”.

Seis dias depois do ocorrido, uma expedição partiu para dar combate a um grupo que agia no termo de Rosário. Sob o comando do chefe de policia acompanhando de 80 praças do guarda nacional, coadjuvado pro destacamentos de diversas localidades, estabeleceram o seguinte plano; uma parte da tropa daria batidas nas matas dos engenhos do lado de Rosário , onde se supunha estarem localizados os escravos fugidos, e o grosso da tropa ficaria na retaguarda da mata a espera dos escravos, pois os quilombolas ao serem atacados , ver-se-iam compelidos a fugir e ficarem então sob dois fogos. Com esse plano seguiu o tenente João Batista da Rocha , para dar uma batida nos engenhos Capim-Açu Várzea Grande e Jurema. Perseguidos os quilombolas deixaram grande quantidade de sebo, corda e alimentos . Cercadas as senzalas do engenho Capim-Açu, foram presos quatro escravos. Na mesma semana sob o comando do capitão Jose Esteves de Fretas foram cercadas as senzalas dos engenhos Limeira, Piedade e Quindonga. No dia 16 nova diligencia e feita no engenho Floresta.

No dia 23 de Abril, auxiliado por praças da Guarda Nacional, o delegado de Divina Pastora cercou as matas do engenho Batinga onde havia um quilombo de 11 negros.
Mas a diligencia fracassou. Cerco idêntico se deu no engenho Floresta no termo de Rosário, também sem resultados satisfatórios.

Ainda no mesmo mês, o juiz Municipal de Divina Pastora Manuel Caldas Barreto, realizou uma diligencia contra alguns negros aquilombados. Ao chegar a força no lugar em que os mesmos se achavam acampados, foram encontrados somente dois. Nova diligencia foi feita em agosto, no termo de japaratuba. Sabedores, os escravos se refugiaram nas senzalas dos engenhos circunvizinhos.

Convencidos cada vez mais de sua situação de explorados pela classe dominante, os escravos formavam quistos. Não ficaram somente restritos à formação de quilombos, procuraram alcançar a própria senzala, através de aliança, uma solidariedade perdurou a todo o período do desenvolvimento do quilombismo em Sergipe. Manifestou-se principalmente, em caso de perigo, quando uns protegiam os outros, escondendo-se nas senzalas. Em tempos normais, realizando intercambio comercial, trocando farinha e agasalhos pelos roubos praticados. No inverno escondiam-se nas senzalas.

Os quilombolas ameaçavam a segurança individual e da propriedade. No dia 30 de janeiro de 1873, foi realizada uma diligência em Rosário, nos engenhos Piripiri Novo e velho. A falta de praças suficientes não permitiu condições para captura de todos os fugitivos, sendo presos apenas três.
As causas apontadas pelo fracasso das diligência, eram os contatos entre os negros insurretos e os escravos das senzalas, e a incapacidade das forças municipais, no Maximo contando 15 praças. Os comandantes de destacamentos pediam, continuamente, reforço ao chefe de policia. Manuel Spinola Junior, tentando justificar o fracasso das diligências acusava também os senhores de engenho pois, “deixam que os escravos se acoitem em suas terras como também não impediam o relacionamento com os do engenho”

De todos os negros aquilombados, o mais famoso foi João Mulungu. Durante muito tempo deu trabalho às forças policiais. Nas perseguições realizadas para sua captura, destacou –se a figura do tenente João Batista da Rocha, “oficial sempre pronto para as diligências mais arriscadas que q policia empreendia, nas quais tem obtido bons resultados, capturando grande número de malfeitores”.

Na primavera de 1873, o tenente, partiu com cinco praças e mais seis do destacamento de Rosário, para capturar João Mulungu. Procedeu-se o cerco nas matas do engenho São José, onde se suspeitava a existência dos quilombos. No caminho encontraram uns escravos, que os guiou até o local onde os negros estavam arranchados. Encontraram 15 ranchos com 14 escravos. Apesar dos esforços empregados, foram capturados somente quatro, inclusive uma preta de 13 anos, que vivia em companhia de João Mulungu. Foram apresentados no rancho dois cavalos e algumas foices. Apesar da tentativa, João Mulungu conseguiu fugi. O motivo apontado pelo fracasso da tropa o pequeno número de praças.

Tendo notícias que João Mulungu encontrava-se residindo nas margens do rio Vaza-Barris, junto ao engenho Itapema, em Itaporanga, parte João Batista da Rocha em seu encalço. Mulungu não se encontrava no local.

No final do mês de setembro, o tenente João Batista da Rocha comunica ao presidente da província:
“Tenho conhecimento que se acha nas imediações de Rosário, o escravo João Mulungu, um dos poucos quilombolas que restam ser capturados e que é respeitado é o chefe mais terrível deles (...) mais oito ou dez escravos se acham em sua companhia”.

Outra diligência foi realizada. Novo Fracasso. Mais outra na vila de Japaratuba, também resultou em mais um fracasso, pelo auxílio que os quilombolas receberam dos escravos dos engenhos. Avisados, deixaram os ranchos e se refugiaram nas senzalas. Somente foram aprendidos inúmeros animais de montaria.
O Presidente da Província. Antonio dos Passos Miranda, comunica à Assembléia Legislativa Província, que ainda não se podia “extinguir os quilombos que de longa data são o terror de grande numero de proprietários, cuja fortuna e vida sofrem de constantes ameaças pelos assaltos que , de vez em quando, dão os escravos em diferentes termos. Muitas diligências se tem feitos e alguns resultados se há colhido, resta porem muito a fazer-se (...) asseguro-vos que não permanecerei inativo, nesse serviço, se bem que mais de uma dificuldade, existe contra os melhores desejos a respeito”.

Dois anos mais tarde, o Presidente João Ferreira de Araújo Pinho, destaca a Assembléia Legislativa Provincial, que a longos anos são os quilombolas “o terror da população do interior. Formando quilombos diferentes, percorrem engenhos que querem, penetram, algumas vezes disfarçados, nas cidades, roubam, fazem quanta violência entendem”.

Apesar da rede de espias que espias que possuía em todas as localidades, o mais terrível chefe dos quilombolas, João Mulungu, foi preso no dia 13 de janeiro de 1876, tendo conhecimento de que João Mulungu atacava em divina Pastora, o juiz municipal, Manoel Cardoso Vieira de Mello, ofereceu-se ao chefe da policia Vicente Caucaes Telles para dar-lhe combate ao tempo que também pediu uma expedição que fosse chefiada pelo tenente João Batista da Rocha. Depois de cinco noites e cinco dias sem descanso, o juiz Municipal e o tenente, com o auxilio do alferes Marcolino de Souza Franco e dos praças que o acompanharam,conseguiram apresa-lo. Considerado o terror da população, o povo aplaudiu sua prisão. Por onde a escolta passava. “era vitoriada pelo povo em massa”. No entanto Mulungu preferiu ser enforcado a voltar para o seu povo em massa”. Podemos considerar João mulungu como o Zumbi de Sergipe.

O movimento dos quilombolas não morreu com mulungu. Crescia sempre, sempre, e mais fugas se verificavam em várias partes da província. Atentados, principalmente contra senhores e feitores, registram-se com freqüência, No engenho Paty, em Itaporanga, 36 escravos assassinaram o feitor do engenho. Fato idêntico se deu em Riachão, assassinaram o feitor do engenho Grutão, por três escravos.

Até as vésperas da abolição, os quilombos foram constantes na história da escravidão em Sergipe.

No dia 20 de janeiro de 1887, o delegado de polícia de Divina Pastora informa ao chefe de policia José Ingnácio Fernandes de Barros, que vem recebendo queixas e reclamações de roubos, incêndios e depredações praticadas por “um quilombo de escravos que estão estacionados nas matas existentes entre os engenhos Salobro e Limeira, o qual quilombo além de roubos e incêndios praticados nas duas mencionadas propriedades, estendem suas façanhas pelos engenhos mais próximos, onde tem furtado gado vacum, animais cavalares e de criação miúda. A audácia tem chegado a tal ponto de atacarem lavadeiras e tomarem toda roupa (...) peço que remeta força regular sob um comando de num oficial”.

Da mesma forma, o delegado da capela comunica que a uns oito quilômetros da Vila, em direção ao Rosário do Catete, existiam “cerca de dez quilombolas que trazem a população alarmada com os seus furtos continuados e ultimamente até com ameaças a segurança individual”.
Em Maruim, os escravos invadiram o engenho mata, da propriedade de Juviniano Marcelino de Lemos e cometeram roubos incendiando seu canavial. No caminho da Vila de Capela, os viajantes sofriam ataques por parte de um quilombo ali existente.

No dia 13 de maio de 1888, foi assinada a lei no 3.353, a lei Áurea, declarando extinta a escravidão no Brasil, e com ela chegava ao fim a epopéia dos quilombos, não só em Sergipe como em todo país. Recebendo a comunicação da assinatura a lei abolicionista, o Presidente da Província, Olimpio N. Santos Vital, expediu comunicação a todos chefes de repartição pública em geral, a todas as autoridades da província recomendando-lhes a pronta execução da lei. A maior parte dos escravos ficou nas propriedades dos seus senhores.


CONCLUSÃO

Como podemos observar, a rebeldia surgia, como forma de reação à escravidão, ela aparece como elemento de contradição do sistema implantado na colônia. Socialmente isso conduzia à revolta permanente, pois, como pudemos ver, o grau de sofrimento chegava ao limite. Os movimentos dos escravos foram constantes, principalmente na medida que se procurava transforma-los em coisa. Assim a rebelião surgia e assumia várias formas: fugas, suicídios, assassinatos, passividade no trabalho, aborto, etc...
Em Sergipe, como nas demais partes do Brasil, o escravo se rebelou, fugiu dos engenhos e fazendas. Por isso os quilombos em Sergipe fora uma constante na sua história. Julgamos que a grande diferença entre a escravidão de outras regiões do país e em Sergipe, estar em não serem aqui os quilombos de grandes proporções e nem desenvolverem uma economia própria em seus redutos. Satisfaziam-se apenas em torno de roubos que praticavam em engenhos e em viajantes desavisados. Foi o que observamos através de vários ofícios enviados ao chefe de polícia pelos delegados municipais.

Impossibilitados de se enquadrarem na sociedade vigente, os escravos contestavam a estrutura, apesar de não haver entre eles uma consciência de classe social. Marginalizados dentro do sistema monocultor, maltratados e tratados como animais, para o escravo a fuga era uma alternativa, mesmo sabendo do risco que corriam. A revolta do negro e a sua contestação através dos quilombos também pode ser explicada pela recusa diante de uma condição estranha, que não permitia sequer uma identificação com o espaço físico. O negro era arrancado da sua família, dos seus valores, para sustentar uma sociedade que não o via como ser humano. A rebelião era definida ainda, pela necessidade individual de evadir-se da situação de escravo, onde a sobrevivência reduzia-se aos mínimos físicos.

A tática desenvolvidas pelos quilombolas de Sergipe não resta dúvida que foi uma guerrilha, jamais se empenharam em confrontos diretos com as forças do governo para o recesso das matas e lá, com movimentos rápidos, sempre levavam as tropas a fracassarem.

A explicação que encontramos para o aumento das fugas, a partir da lei do Ventre Livre, nos remete a abolição do tráfico de escravos, além das citadas anteriormente, isso porque com a extinção desse comércio, a população escrava da Província tendeu a diminuir, e o resultado foi a pressão sobre os escravos por parte dos senhores, afim de que se produzissem mais, resultando em fugas constantes.

Concluindo, podemos afirmar que em Sergipe, as relações entre senhores e escravos se caracterizaram tanto pelas violências dos primeiros, como dos segundos. Não foi um escravo, um testemunho mudo da nossa história.



PRINCIPAIS QUILOMBOS DE SERGIPE

MUNICÍPIO LOCALIDADE


Capela Caminho de Capela para Rosário
Divina Pastora Engenhos Batinga, Salobro e Limeira
Itaporanga Margens do Rio Vaza-barris, Engenho Itapema
Rosário Mata das Urubas (entre Rosário e Santo Amaro)
.” Engenhos Floresta, Várzea Grande,
.” Capim-Açu e Jurema
Laranjeiras Engenhos Brejo, São Paulo e Aroeira
Japaratuba Engenho São José


BIBLIOGRAFIA

01 - FONTES PRIMÁRIAS

- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 121
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 316
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 490
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 564
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 579
- A.P.E.S. – G1 - Pacotilha 32
- A.P.E.S. – Relatórios dos Presidentes da Província à Assembléia Legislativa Provincial – Cx. 02 – 1872, 1874 e 1876.
- A.P.E.S. – Relatórios dos Presidentes da Província à Assembléia Legislativa Provincial – Cx. 03 – 1884

02 – JORNAIS

- Jornal de Aracaju – 1872
- Jornal de Sergipe – 1873

03 – FONTES SECUNDÁRIAS

ANTONIL, André João – Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas – São Paulo – Ed. Nacional – 1967.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. e DRIGNOLI, Héctor Pérez – Os métodos da História – Tradução de João Maia – Rio de Janeiro – Edições Graal 1979.
COSTA, Emília Viotti da – O Escravo na grande Lavoura in: História Geral da Civilização Brasileira – Org. Sérgio Buarque de Holanda – São Paulo – Difusão Européia do livro – Vol. 3 – 1977.
FIGUEIREDO, Ariosvaldo – O Negro e a Violência do Branco: O Negro em Sergipe – Rio de Janeiro – J. Álvaro editor – 1977.
FREIRE, Felisberto – História de Sergipe – 2ª edição – Petrópolis – Vozes – 1977.
GOULART, José Alípio – Da fuga ao suicídio – Ed. Conquista – INL – Rio de Janeiro – Cátedra – INL – Brasília – 1972.
MATTOSO, Kátia de Queiroz – Ser Escravo no Brasil – São Paulo – Ed. Brasiliense – 1982.
MOURA, Clóvis – Os Quilombos e a rebelião Negra – Ed. Brasiliense – São Paulo – 1981.
- Rebelião da Senzala – São Paulo – Ed. Ciências Humanas – 3ª Edição – 1981.
MOTT, Luiz Roberto de Barros – População e economia: aspectos do Problema de mão de obra Escrava em Sergipe (Séc. 18 e 19) – in Revista do Instituto histórico e Geográfico de Sergipe – Nº. 28 – 1978 a 1982.
- Violência e repressão em Sergipe: Notícias Sobre as Revoltas de Escravos ( Séc. 19) in: mensário do Arquivo nacional – Nº. 125 – 1980 – Ano XI.
SOUZA, Josefina Eliana e LIMA , Josefa Perpetuo de carvalho – O Fundo de Emancipação de Escravos de Escravos em Sergipe (Aspectos Gerais) – Trabalho apresentado na Universidade Federal de Sergipe para obtenção do grau de Bacharelandos em História – 1983 – (mimeografado).

Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe.
Bacharelando em História pela Universidade Federal de Sergipe.

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