domingo, 21 de dezembro de 2008

JORNAL A TARDE - 1985



JOÃO-MULUNGU:
HERÓI-NEGRO-SERGIPANO

A recuperação da memória negra sergipana, encetada desde 1980 pelo Grupo Regional de Folclore e Arte Cênica Amadorista Castro Alves, através do seu Órgão de Documentação e Pesquisa – Instituto Sergipano de Pesquisa da Cultura Popular Negra – começa a dar os primeiros resultados no sentido de, efetivamente trazer a público a verdadeira imagem e importância dos líderes, heróis lendas, mitos e organização das várias culturas negras existentes na comunidade sergipana.

O GFRACACA/ISPCPN, entidade sergipana de cultura popular e negra, com funcionamento legal, tem objetivos definidos em pesquisas, educação, formação e divulgação das manifestações do contexto cultural e especificamente dos trabalhos junto às comunidades, sendo o candomblé seu ponto de irradiação.

“João Mulungu”, a força da tradição oral, é quem tem possibilitado a tênue recuperação das manifestações negras no Brasil e essa constante se verifica em toda diáspora. O trabalho sobre o levantamento da memória de “João Mulungu” teve início em 1981, através das informações do cineasta Djaldino Mota Moreno ao coordenador geral, José Severo, conhecido nacionalmente por Severo D’Acelino. A referência foi um artigo publica dona “Gazeta de Sergipe” sob o título “Poeira dos Arquivos”, porém as informações ali contidas não eram suficientes para maior envolvimento, até que, em 1984, foram obtidos maiores detalhes e referências documentais. A fonte documental que maior contribuição dará aos estudos da memória do negro sergipano será o Arquivo Judiciário, presta a ser instalado.

Nascido na zona da Cotinguiba , em 1851 ,negro ladino ,liberou diversos quilombos , dando –lhes continuidade pela organização de sua comunidade , na busca de liberdade e dignidade , lutando contra a opressão do dominador e do trabalho hostil . Foi o líder dos quilombos Sergipanos desde o início da manifestação em Estado a partir do século XVII,XIX.

Foi enforcado em Santo Antônio de Aracaju , após sua prisão, a 13 de Janeiro de 1876 ,com apenas 25 anos de idade.

Sua memória está sendo recuperada pelo GRFACACA/ISPCPN, através do cordel, cartaz, palestras,cursos (comunicação e divulgação à comunidade), além de seu nome no auditório da entidade.

A opinião do Conselho Estadual de Cultura, acerca da entidade, pode ser verificada, no item 3o., do processo No 130/84.

“Na comprovância de sua funcionalidade, foram anexadas ao processo, estatutos, textos distribuídos em cursos, comunicações feitas, em eventos culturais e festivais de cultura negra, as quais voltadas para a defesa da história do negro e suas manifestações são das expressivas”.

A existência do grupo e a liderança exercida pelo Sr. José Severo dos Santos, na comunidade ficam comprovadas.

O coordenador Severo é conselheiro do Memorial Zumbi, membro da comissão Sergipana dos humanos, fundador do MN/ GRFCACA/ISPCPN,Oni-Odé do lylê Opô Airá, técnico cultural, ator, teatrólogo, conferencista e, sobretudo, sergipano do Aribé.

Jornal Á Tarde, 13 de Maio de 1985.

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