domingo, 21 de dezembro de 2008

MANIFESTO ' JOÃO MULUNGU '



MANIFESTO “JOÃO MULUNGU”
Severo D’Acelino

O discurso contraditório acerca de qualquer afirmativa se nos apresenta como uma grande contribuição ao debate do tema posto em questão. Neste sentido as relações das achegas a histórias possibilitará maiores estudos revitalizantes no repensar da própria historia, cheia de contradições já há muito cristalizada.

A problemática da Historia do Negro brasileiro, cheia de desencontros e embaçada na visão institucional e distorcida a cada abordagem, ate a de historiadores negros, uma vez que compromisso com a questão é um exercício de ideologia na busca constante de novos valores e fatos que direciona a raiz do conflito para extrair as hipóteses para formulações de propostas que configuram o perfil através dos diversos indicadores exaustivamente analisados a luz da época e da fonte, para tirar um diagnostico sustentável.

A introdução nos leva a questão de “JOÃO MULUNGU”, cuja existência em Sergipe Del Rey em 1851 a 1876 (?) está fartamente documentada e sinalizada como o maior líder dos quilombos Sergipanos, banido da historiografia e documentação oficial, a partir de Novembro de 1876, posto que maquiaram as insurreições escravas após a dita prisão e enforcamento de JOÃO MULUNGU.

A historiografia moderna sergipana, nada conhece sobre o personagem e nada se produz a seu respeito, tendo como única fonte de referencia bibliografia, o livro de Ariosvaldo de Figueiredo “O Negro e a Violência do Branco”.

O resgate da memória de JOÃO MULUNGU e o seu reconhecimento pelo poder publico municipal de Laranjeiras e Aracaju, despertou a ira e o despeito de alguns negros que, sistematicamente negam a existência do personagem, adjetivando-o de ladrão, traidor e assassino, sem jamais produzir qualquer documento que comprove suas afirmativas, alem da duvida que produz sobre o único referencial negro de Sergipe, por pura ignorância, má informação e formação.

Ressalta-se o coletivo de Heróis Nacionais, que em seus feitos, muitas duvidas levantam ate hoje, inclusive sobre as suas dignidades. Todos eles, heróis do sistema e esses nobres estudiosos sergipanos jamais levantaram as vozes para protestar porque Caxias é Herói Nacional e recebe culto de toda a nação.

Ao iniciar a luta em direção ao resgate da Memória Afro Negro Sergipano, foi movido pelo impulso de conhecer as manifestações e indicadores, trazidos e pela ancestralidade negro sergipano e conferir algumas informações colhidas no seio da família vivida nos canaviais e a citações esparsas dos episódios vividos pelos negros no período da escravidão.

O reconhecimento de JOÃO MULUNGU, é apesar da polemica para atingir não a uma idéia, mas a nossa pessoa ante a capacidade de rebuscamento é uma vitória do Movimento negro, que no seu interior é extremamente hostil e discriminatório, onde a pluralidade de idéias propiciais ao debate, a geração de novos questionamentos e pratica da democracia do mais forte, que a despeito de criticar e querer mudar o sistema, se utiliza dos seus instrumentos para embrutecer, cooptar e cortar as cabeças dos que não aceitam a submissão do grupo dominante e nisto a democracia é sinônimo de autocracia, a famosa ditadura dos arrogantes que como mariposas, giram em torno do poder.

Mu padá mo iro okourim – propicia a abertura de mentes e consciência para concordarem ou discordarem na participação nas decisões que visem o crescimento do coletivo negro afro sergipano, buscando a valorização do nosso imenso arquivo humano e garantindo as gerações vindouras a planificação da unidade na diversidade, produto do negro do passado, presente e continuadamente para o futuro sem problemas de continuidade. É conhecendo o nosso passado que faremos o nosso futuro, vivendo a realidade presente, sem falsas esperanças e sem o modismo idiossincrásico.

No sentido de esclarecer melhor a importância de JOÃO MULUNGU na historiografia do negro sergipano, buscando através do debate a contribuição efetiva a releitura de nossos episódios e leitura do nosso herói, numa avaliação da documentação existente.

Nos dias de hoje, a ação policial em cima do negro, exemplifica os idos da escravidão, como herança estratégica do sistema de controle e segmentação das disparidades e desigualdade das relações sócias e humanas com forte conotação político-economico, tendo o poder como status e o sistema como instrumento.

O negro no sistema jurídico/penitenciário no Brasil hoje tem seu maior algoz nas delegacias, suas câmaras de tortura, físico-psicomoral que nem os Direitos Humanos conseguem romper as tradicionais barreiras com direito a advogados, etc. E na época do escravismo, qual o direito que tinha o negro? Ali e aqui o negro sente dor sem gemer. Afirma que crucificou o próprio Cristo (referencia a cultura dominante) assim ou afirma o que lhes mandaram assinar ou afirmar. A redação é sempre do opressor, ou seja, agentes do sistema segundo o tom que lhes aprouver, ante a situação e personagens implícitos.

Como a cara professora de historia, no afã de lançar o descrédito ao trabalho tão significativo de Entidade não-governamental, quer reafirmar os autos fraudulentos e carregados nas tintas, dos processos imputados ao personagem JOÃO MULUNGU, sem refletir nos ensinamentos de suas mestras, na própria universidade, em apurar e analisar os documentos dentro da conjuntura, buscando todas as vertentes e tendências para uma melhor interpretação das variáveis implícitas, de forma impessoal.

Sergipe busca, através do seu grupo acadêmico, fazer releitura documental da historia e cultura sergipana, sem priorizar “documentos” pois, nem sempre eles fazem a historia e sim analise dos fatos a luz da modernidade, respeitando a diversidade e pluralidade cultural nos episódios objetos de preocupação e pesquisas. O escravo reagio a experiência da violência, ao exercício de violência a que era objeto.

Reformulação e revisão da Historia do Negro Sergipano.

Pensamento insólito da professora de historia, contra o direito da revisão e da reformulação dos fatos, historias e pareceres, sem atentar que os heróis institucionais de hoje, foram os bandidos de ontem.

ADVERTENCIA a visão anacrônica de historias. A subjetividade de uma professora de historia, em relação ao objeto de nossas preocupações e pesquisas ao memorial do Arquivo Humano Afro Sergipano, particularmente, o Herói JOÃO MULUNGU, chega as raias do bizarrismo, quando nega as características da personalidade do personagem acentuando e cristalizando e sobretudo, sem direito algum, secularmente escamoteado e explicitamente explorado e que reage de acordo com as ações sofridas.

Sabe-se que no mínimo a luta por sobrevivência dos povos oprimidos passa-se efetivamente por uma reação a situação, daí as diversas e variáveis lutas e que jamais o dominador ofereceu direitos e oportunidades dos seus valores restritos, para defasa do oprimido.

Diz a nobre professora, numa visão distorcida da historia e realidade social escravista, baseada em auto jurídicos, que o personagem não pode ser considerado herói, tendo em vista que era malfeitor, assassino, traidor e seqüestrador. Na sua ação precipitada sem a visão analítica, visa sobre tudo desacreditar o esforços da casa de cultura Afro Sergipana e seu presidente na ação de resgate e valorização do Arquivo Humano Afro Sergipano e sobretudo, provar a sua força institucional pela função daquela instituição que é a defesa do livre debate promoção dos valores plurais e respeito a diversidade.

A inteligência acadêmica corre o risco de perpetuar os erros seculares da historiografia institucional, se fortalecer os desvarios pessoais da professora de história que ainda vê o Egito fora do mundo africano e nega a descendência racial de Cleópatra e outros faraós. A negação cultural nos leva a lamentar que ainda se caracteriza nos seios acadêmicos, pesquisadores e professores de visões institucionais para diagnosticar pareceres, sócio-histórico-culturais, reduzindo o espaço para o livre debate oferecer novos valores a humanidade e resgate de suas histórias.

O silêncio, escamoteando a história, foi o maior engodo contra João Mulungu, quando não mais precisava de sua ação para as promoções pessoais. Durante muitos anos, a existência de João Mulungu, foi útil aos propósitos do sistema, para justificar as propostas que encobriam os projetos pessoais e as mentiras arquitetadas. Junta-se essa onda de engodos e mentiras sobre as ações dos escravos e perpetuou o silêncio contra a Revolução Negra e seus lideres, notadamente João Mulungu que, no terceiro Quartel do século XIX, provocou o maior movimento contra o sistema e abortou diversos projetos fisiológicos, daí a ocultação de suas ações como conseqüência de uma reação coletiva a que liderava. Apesar da Revolução Negra liderada por João Mulungu ter sido o marco mais importante da história do Negro Sergipano e a que mais repercussão teve, faz-se silêncio e manipulam-se informações numa ação programada de escamoteamento da verdadeira importância do negro, dando importância maior a fatos isolados, tendo sempre o interesse em distorcer os fatos, na maior violência histórica da província.


A manipulação de dados pelo presidente da Província, através de relatórios, ofícios e outros artifícios, promoveu uma barreira para impedir as respostas que levariam a verdade dos fatos e, a historiografia oficial aproveitou-se dos “testemunho” documentais devidamente maquiados, para reforçar a frase do poder institucional da elite escravista, a fim de cristalizar a mentira histórica.

A fraude histórica, perpetuante de interesse escusos e contraditórios, sinaliza a inexistência de debate dos fatos, numa Análise circunstancial da multidisciplinar dos valores interculturais.

No transcurso da análise documental primaria, verificamos que os fatos quando abordados por historiadores, são assinalados erroneamente sem a preocupação de verificar os múltiplos acontecimentos cronológicos determinantes da causa e conseqüência das reações dos escravos, antes as acusações que lhes são imputadas e transcrevem pura e simplesmente como ação fechada. O não merecimento de uma análise mais acentuada dos documentos é que a mentira tem sido permanente, acentuando o fisiologismo liberal.

Assinalamos que coube ao negro, mais que o índio e o branco a defesa da província: contra os franceses, os holandeses e portugueses, só que isso não é ressaltado. Observa-se que os negros sempre derem combates contra os portugueses, efetivamente essa questão é enfatizada, quando os brancos brasileiro explicitam sua versão lusitana e para fugir das responsabilidades dos seus atos, utilizam negros como agentes da ações, exigidas retaliações aos negros e seus lidere, silenciando a sua importância histórica e social, política e econômica no processo conjuntural da independência como um todo.

Ariosvaldo Figueiredo, um dos maiores críticos contemporâneos da violência contra o negro, infelizmente caiu na armadilha documental e acentua a farsa contra João Mulungu, registrado sua morte física histórica , conforme os anais dos famigerados ‘‘RELATORIOS.’’ Outros o seguiram, por tanto a nossa historia cabe uma revisão, para investigar as verdadeiras causas como origem da ação formulada e sua conseqüências como questões geradoras.

O poder paralelo exercido pelo quilombistas, foi útil para a elite até a consumação dos seus interesses, só que poderiam jamais controlar as lideranças e o manifesto de participação parietária dos negros ate as fragmentação do poder do sistema (da denominação do sistema ) que teimava em excluir os negros da sociedade escravista .

A ação da revolução Negra ,simbolizou sobretudo, a consciência máxima de defesa da nacionalidade; a luta pela independência nacional, chegando ao genocídio de um povo que não se rendia para conquistar a liberdade.

A Guerra do Paraguai Foi executada pelo esforço e sangue do negro, que, Substituindo os seus Senhores, Conforme decreto emitido, engrossaram as fileiras do esquadrão suicida e genocida, que no Paraguai foram abatidos, Para que os brancos trucidassem milhares de crianças que defendiam o solo pátrio.

Cada convocado a Guerra do Paraguai, seria dispensado se pagasse uma multa ou entregasse negros, foi a Primeira vez na história colonial que o branco se igualou ao negro.

A penalidade imputada a João Mulungu, pela formulação de um processo Plantado, que visto á luz do Próprio código, levaria seus companheiros a simples chibatadas, mas manipularam e distorceram os fatos dando uma conotação bizarra ao fato e João Mulungu, fora sentenciado a 1 ano de galés e seus dois lugares-tenentes a galé perpétua.

O manifesto das ações dos escravos, notadamente a Revolução Negra, foram conseqüência da violência política, econômica, e social da escravidão como questão geradora do conflito.

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