quarta-feira, 21 de outubro de 2009
JOÃO MULUNGU - HEROI DA RESISTÊNCIA
MEMORIAL JOÃO MULUNGU
HEROI DA RESISTÊNCIA
AGRADECIMENTOS
Acrísio Torres
Antônio Carlos Leite Franco
Antônio Gomes de Andrade
Ariosvaldo Figueiredo
Arquivo judiciário de Sergipe
Arquivo Público de Sergipe
A Tarde
Biblioteca Pública de Sergipe
Clarêncio Fontes
Câmara Municipal de Aracaju
Câmara Municipal de Laranjeiras
Djaldino Mota Moreno
Eugênio Nascimento
Genário de Almeida
Instituo Histórico e Geografia de Sergipe
Jornal A Voz do Município
Jornal da Manhã
Genaro de Almeida Brota
Jorge Araújo
Juarez Conrado
Lourival Santana Santos
Maria Nelly Santos
Pedrinho Santos
Wellington da Mota Paixão
INDICE
Apresentação
Agradecimentos
Introdução
Pós dos Arquivos - ACRISIO TORRES
Editorial - Jornal Nagô
Mensagem á Câmara Municipal de Laranjeiras -
- Antonio Carlos Leite Franco
Aparte do Vereador Neemias
Lei nº 407 - Prefeito de Laranjeiras
Projeto Reconhece Herói e Institui Consciência Negra.
Lei 1858 - Clarêncio Fontes
João Mulungu: Herói Negro Sergipano
- A TARDE
Herói Negro é Reavaliado - Eugênio Nascimento
João Mulungu - Severo D’Acelino
Manifesto João Mulungu - Severo D’Acelino
João Mulungu e o Modelo Afro Sergipano
- Severo D’Acelino
Controvérsias sobre João Mulungu
- Severo D’Acelino
Notas sobre Quilombos em Sergipe
- Lourival Santana Santos
Fugas: Uma Alternativa de Liberdade
- Maria Nele Santos
Outros Mulungu, outros Mitos
- Maria Nele Santos
O Destino do Herói é Antecipar a Utopia
- Severo D’Acelino
A Saga de João Mulungu - Severo D’Acelino
Violência e Fuga - Ariosvaldo Figueiredo
- Robert Conrado
INTRODUÇÃO
O presente trabalho in coletânea , busca assinalar o nosso imobilismo enquanto negros responsáveis pelo resgate, revisão e visitação a tradições.
Busca também, a ampliação do debate e discussões em torno de João Mulungu , nosso libertário, elevado a categoria de Herói Negro Sergipano, numa quebra do rio protocolar do Brasil e que fugiu aos parâmetros tradicionais da filosofia conservadora de Sergipe, gerado em torno do processo de reativação da Cultura Negra e reconhecimento do Arquivo Humano Afro Sergipano.
Em torno de João Mulungu, a nossa pesquisa já se arrasta desde os anos 70 com os constantes problemas de comunidade motivado pelo desinteresse institucional, principalmente no aprovo de projeto e liberação de recursos continua se cristalizando na medida em que documentos afloram,numa constante contradição histórica , contribuindo para a ampliação do saber e ampliando a nossa insegurança acadêmica para a conclusão do assunto.
Algumas informações textualizadas e publicadas em torno do tema, onde buscam confundir a opinião pública, principalmente a comunidade estudantil, na desvalorização do Personagem, querendo tornar baixo e inferior a ação, nos impele a manifestos acirrados.
Colocamos aqui, o conjunto representativo da ação, como contribuição as novas achegadas para reflexão e ampliação do debate sobre a importância de João Mulungu, sua trajetória, as ações negativas dos governos e a falta de força crítica dos intelectuais e, sobretudo, da omissão deliberada dos nossos historiadores em colocar na vala comum a história do negro sergipano,uma das mais importantes do Brasil.
Buscamos o estímulo e direcionamento a redescoberta dos nossos signos,heróis e heroínas nos episódios políticos,sociais,culturais e econômico de Sergipe e remetido as salas de aulas para formação intelectual desse contingente de negros aculturados.
O Memorial Documental JOÃO MULUNGU será referencial deste resgate e revisão histórica do negro sergipano, trazendo á superfície os fatos e episódios desde a introdução dos nossos ancestrais com o advento da escravidão.
A desmistificação do discurso colonialista,trará a renovação das pesquisas, bem como a natureza do seu enfoque,tirando o negro e suas culturas da posição de objeto da ciência, para agentes da história.
Numa ação natural às controvérsias sobre as qualidades de João Mulungu e sua trajetória libertária, buscamos na apresentação do manifesto, não à polêmica, mas a ação de atitudes e do interesse coletivo de resgate, a elaboração conjunta de nossa e sua exclusão.
Resistência e caminhos é a proposta de revitalização histórica e ancestral do nosso Arquivo Humano e valores numa visão múltipla, na busca de resistência e caminhos é a proposta de revitalização histórica ancestral do nosso Arquivo Humano e valores numa visão múltipla, na busca de esclarecimentos às controvérsias geradas pelo preconceito e pela idiossincrasia.
ÓS DOS ARQUIVOS
Acrísio torres in Gazeta de Sergipe
No ano de 1876, o Presidente da Província ARAÚJO PINHO vem anunciar a população de Sergipe o fim dos quilombos. Os haviam trazido interior em pânico,atacando engenhos,fazenda, violentos saqueadores.
Divina pastora, Capela, Rosário do catete, Maruim, Laranjeiras,haviam sido locais de agrupamento de fugidos. Era chefe geral desses quilombos, o quilombola João Mulungu.
Tinha apenas 25 anos, crioulo de estatura regular e, segundo documentos da época era “um pouco ladino e insinuante”, era o terror das populações do interior, mormente dos curraleiros e senhores de engenho.
Na captura de mulungu foram postos em prática os planos do DR.
Vieira de Melo , Juiz de divina Pastora, e as diligências do Capitão Batista da Rocha, Bravo, Sagaz, este oficial era capaz de empresas mais arriscadas. Durou cinco dias e cinco noites a diligência, mas ao cabo das fadigas e perigos, Mulungu, foi preso no lugar flor Roda, em Rosário do catete. Mulungu, o mais famoso quilombola de Sergipe.
Mãos amarradas à frente da escolta, o célebre bandido negro foi conduzido à capital da província. Todos se sentiram aliviados, a mercê do Juiz Vieira de melo e do auxiliar imediato,alferes Marcolino Franco .Aracaju daqueles idos, assistiu levemente assustada, muda, a passagem de Mulungu.
Na cadeia pública, foi objeto de curiosidade da população e, durante anos, ocupou a memória das populações interioranas que aterrorizara. Vigoroso nas arremetidas e resistências. Mulungu também se mostrou forte na prisão, ante juizes e autoridades. Por isso mesmo, dissera durante o processo preferir ser enforcado (e foi) em praça pública a voltar para casa de seu senhor.
EDITORIAL
O discurso que evidencia a perplexidade da nossa memória embaçada pelos constantes hiatos, verificados há mais de 400 anos reforçado pela atomização e pela idiossincrasia cultural, imposta a nossa gente pela chamada cultura dominante, nos impondo seus signos e estética em detrimento aos nossos valores, através do estigma do branqueamento, a nossa oportunidade se apresenta na medida da colocação de nossa pele, (quanto mais claro, maiores as oportunidades), e ninguém quer ser negro na concepção da palavra, pois o negro em nossa sociedade representa tudo de ruim, é xingamento.
A nossa ancestralidade se prende a nossa consciência, a esperança de nossa valorização através do reconhecimento dos nossos valores, nossos heróis, lendas, mitos a colocação de nossa cultura. Os nossos heróis ainda hoje clamam por justiça, reconhecimento e ainda são considerados marginais, criminosos, assassinos e ladrões, quando identificados. No entanto, sabemos que assim não o são, e, nesta condição os nossos heróis, líderes negros sergipanos, olvidados, clamam por atos de desagravos constantes, não só da nossa comunidade, sobretudo quanto da sociedade que os violentou.
JOÃO MULUNGU – O herói negro sergipano, carece de reconhecimento urgente, de todos os segmentos da sociedade e sobretudo de sua comunidade que o esqueceu, antes mesmo de o amar e identificar. O seu nome deve ser exemplo de todos que na constância reivindicatória, propugna por defender os legítimos direitos de sua comunidade no dia-a-dia em busca de uma sociedade igualitária e mais justa, na solução e encaminhamento dos nossos problemas e na discussão de nossa condição.
A comunidade negra sergipana, deve conhecer os seus heróis, ara que através deste comportamento solidifique a identidade, como meta de esclarecimento da importância de nossa ancestralidade, na construção deste espaço nacional, da história do Brasil e de Sergipe em particular, através dela mesma buscar definir um espaço em que possa estender o reconhecimento além de suas fronteiras e buscar dos legisladores, o reconhecimento público e sem sombra de dúvidas a nossa primeira investida e enquanto comunidade e enquanto negros em busca de nossa ancestralidade e identidade, será resgatar para os nossos, o nosso Herói, pois o seu pleno reconhecimento e a nossa presença firme e inabalável em defesa dos nossos valores. JOÃO MULUNGU, Herói Negro Sergipano, líder dos quilombos coloniais, para que possamos resistir no combate sistemático em nossos quilombos, urbanos e rurais, contra a repressão da máquina que nos massacra e violenta.
JOÃO MULUNGU é nosso. Nos pertence.
“LIBERTAS QUAE SERÁ TAME”
Liberdade, mesmo que tardia.
Jornal Nagô
Órgão oficial de divulgação do Grupo Regional de Folclore e Artes Cênicas
“CASTRO ALVES” - Instituto Severo D’Acelino de Culturas Negras.
Boletim informativo No. 01/86
Reg. SCDP/DPF/SE No. 02236
EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DACÂMARA DE VEREADORES DE LARANJEIRAS
EXCELENTÍSSIMOS SENHORES VEREADORES:
Surge, mais uma vez a oportunidade de encaminharmos a essa Colenda Casa Legislativa, o Projeto de Lei No. 04, de 01 de Agosto do corrente ano, que trata de resgatar o nome de JOÃO MULUNGU do ostracismo que vem varando os tempos desde o século passado, quando o personagem em apreço destacou-se no cenário das lutas liberatórias da Raça Negra em nosso Estado.
O presente projeto que reconhece em JOÃO MULUNGU, o mais expressivo defensor da causa negra, na luta contra a escravidão no nosso Estado, justifica-se, em si mesmo, pelo relevante papel que Laranjeiras, através dos seus filhos, desempenhou nos embates pelos ideais anti-escravagistas.
Tido e havido como negro libertatório, segundo parecer abalizado da Casa de Cultura Afro Sergipana, JOÃO MULUNGU é filho de Laranjeiras, “nascido nas senzalas do engenho Flor da Roda, no ano de 1851, ( presumível ) escravo de propriedade de João Pinheiro de Fraga, dono da Flor de Roda”.
A sua ação de homem consciente de sua condição humana na luta pela e pela dignidade dos demais escravos, não recrudesceu em seu afã de libertar os seus irmãos de cor da escravidão que era a prática dominante do poder econômico sobre uma classe vilipendiada, dos escravos.
Líder de grande poder combativo mobiliza toda a província de Sergipe Del Rey para a luta dos escravos, conseqüente grito de real liberdade e sedimentação democrática.
Considerado memória viva de nossa história, Herói Negro nos aparece como “O Símbolo de libertação no Negro do passado ao do presente
Em formulação constante ao Negro do futuro”, audaz e inteligente, força viva e inquebrantável do nosso conceito de liberdade, notabilizado pelos esforços as casa de cultura Afro Sergipana, que tem à sua frente o esforço e mais destacado líder atual Severo D’ Acelino, o presidente da citada entidade.
Instituir o dia 19 de Janeiro, como o dia Mundial de Consciência Negra, é, antes de tudo, estabelecer o poder de pensar e rebelar-se contra qualquer ideal de submissão do povo que construiu a custa de humilhação, a terra do Condutor, altaneiro manancial de cultura que empresta a Sergipe e ao Brasil, e porque não diz, ao mundo, as mais belas manifestações de luta, de força e de altivez, que são e serão legados permanentes e indestrutíveis da força do nosso povo.
Este Executivo Municipal, cônscio do dever que se lhe impõe a sua própria função, não podia e não pode descurar-se de suas obrigações com o seu povo, protegendo-lhe as aspirações, razão porque submetemos à apreciação de Vossas Excelências projeto de Lei, pedido-vos, afim, após os estudos de apraxe, a aprovação deste importante projeto.
Gabinete do Prefeito Municipal de Laranjeiras, em 01 de Agosto de 1990.
Mensagem do Prefeito Municipal Antônio Carlos Leite Franco.
O presidente da Câmara Municipal de Laranjeiras coloca em 2a discussão e posteriormente votação, projeto de Lei No . 05/90 de autoria do Executivo Municipal. Discussão DO PROJETO; Discute o vereador Neemias de Almeida Ribeiro, para pedir que alguém da parte do Prefeito explicasse o Projeto, para não votar sem saber, diz que procurou uma pessoa formada em historia e indagou sobre João Mulungu, segundo essa pessoa a historia não diz nada sobre ele ; continua e diz que foi uma invenção de outro negro meio doido querendo aparecer que se chama Severo, pos o mesmo inventou isso para ganhar dinheiro, e criou o Herói Negro João Mulungu.
39a Sessão Ordinária em 06 de Agosto de 1990
ESTADO DE SERGIPE
PREFEITURA MUNICIPAL DE LARANJEIRAS
Lei No. 407
De 08 de Agosto de 1990
RECONHECE HERÓI NEGRO DE LARANJEIRAS, INSTITUI DIA MUNICIPAL DE CONSCIÊNCIA NEGRA LARANJEIRENSE E DA OUTRAS PROVIDENCIAS CORRELATAS.
O PREFEITO MUNCIAPAL DE LARANJEIRAS , ESTADO DE SERGIPE, faço saber que a Câmara de vereadores aprovou e eu sanciono a seguinte lei.
Art. 1o. – Fica reconhecido, JOAO MULUNGU, como Herói Negro de Laranjeiras, pela sua real participação e importância na luta contra o cativeiro e na libertação de sua raça no Estado de Sergipe.
Art. 2o. – Fica instituído o dia 19 de Janeiro, como o Dia Municipal de Consciência Negra Laranjeirense, data esta que se refere a prisão de Líder Negro JOÃO MULUNGU, nas terras do engenho Flor da Roda, em Laranjeiras.
Art. 3o. – A Secretaria Municipal de Educação, Cultura. Esporte Lazer e Turismo tomara, através do Departamento de Cultura e Turismo, as providencias cabíveis para a divulgação da presente Lei.
Art. 4o – Essa Lei entrara em vigor na data da sua publicação, revogando as disposições em contrário.
ESTADO DE SERGIPE
PREFEITURA MUNICIPAL DE LARANJEIRAS
GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE LARANJEIRAS, em 08 de Agosto de 1990.
ANTONIO CARLOS LEITE FRANCO
PREFEITO MUNICIPAL
GENARO DE ALMEIDA BROTA
Secretario Municipal de Assuntos Jurídicos
PUBLICAÇÃO REGISTRO
Publicado(A) em 09/08/90 Registrado(a) as fl. 31 vs.
Laranjeiras 09/08/90 do livro de leis.
Laranjeiras 09 de 08 de 1990
PROJETO RECONHECE HEROI E INSTITUI
CONSCIÊNCIA NEGRA Clarêncio Fontes
O Prefeito Municipal, Antonio Carlos Leite Franco, encaminhou a Câmara de Vereadores mensagem em que submeteu a apreciação da edilidade o Projeto de Lei No. 04, de 01 de Agosto de 1990, reconhecendo Herói Negro de Laranjeiras João Mulungu, concomitantemente instituindo o dia 19 de Janeiro como “Dia da Consciência Negra Laranjeirense”. No teor do referido projeto lemos que essa figura quase mística, um símbolo de uma época e que perdura, teve real apresentação e importância na luta contra o cativeiro e na libertação de sua raça no Estado de Sergipe Por outro lado, no que se refere a fixação da data comemorativa, reminescente, o 19 do primeiro mês do engenho Flor da Roda, em Laranjeiras.
Na mensagem remetida a apreciação dos vereadores, o prefeito diz que trata-se de resgatar o nome de João Mulungu do ostracismo que vem varando os tempos desde século passado, quando o personagem em apreço destacou-se no cenário das lutas liberatórias da Raça Negra em nosso Estado, reconhecendo no vulto o mais expressivo defensor dessa causa. Justificando-se a iniciativa do projeto, em si mesmo, pelo relevante papel que Laranjeiras, através dos seus filhos, desempenhou embates pelos ideais anti-escravagistas.
João Mulungu (árvore de flores vermelhas, diz o dicionário) e filho de Laranjeiras, nascido nas senzalas do engenho Flor da Roda, no ano de 1851 (presumivelmente), escravo da propriedade de João Pinheiro de Fraga. E “A sua ação de homem consciente da condição humana na luta pela dignidade própria e dos demais escravos, não esmoreceu no afã de libertar os irmãos de cor da escravidão que era a pratica dominante do poder econômico sobre uma classe vilipendiada, a dos escravos”.
E prossegue a mensagem do Executivo, justificando: “...Líder de grande poder combativo, mobiliza toda a Província de Sergipe Del Rey para luta pela libertação dos escravos, um corajoso grito determinante na busca da condição do estado do homem livre da sedimentação democrática...”
“...Considerado memória viva de nossa historia o Herói Negro nos aparece como símbolo de ligação do negro do passado ao do presente em emulação constante ao negro do futuro, audaz e inteligente, força viva e inquebrantável do nosso conceito de liberdade, notabilizado pelos ingentes esforços da Casa de Cultura Afro Sergipana, que tem a sua frente o esforço Severo D’Acelino, presidente e idealizador da entidade...”
“...Instituir o 19 de Janeiro, como Dia Municipal de Consciência Negra, e antes de tudo estabelecer o poder de pensar e de rebelar-se contra qualquer ideal de submissão do povo que construiu a custa de humilhação a terra de Condor,altaneiro manancial da cultura que empresta a Sergipe e ao Brasil, e por que não dizer ao mundo, as mais belas manifestações de luta, de força e de altivez, que são e serão legados permanente e indestrutíveis da força do nosso povo...”
O prefeito de Laranjeiras, por fim, diz que cônscio do dever que se lhe impõe a sua própria função não podia e não pode descurar-se de suas obrigações com o seu povo, protegendo-lhe as aspirações, razão porque submeteu o Projeto de lei Nº. 04 a apreciação, isntando-se, após os estudos de praxe. Aprovaram pela importância que se reveste.
EM QUE CLIMA DE MENTALIDADE NASCEU MULUNGU?
O pesquisador lembrando-nos que o preconceito racial, a segregação, o racismo, não existem somente na África do Sul, e sim em múltiplos regiões, paises, etnia, clãs e agrupamentos humanos na terra, e que tanto podem partir do branco como do negro, amarelo, etc, o apartheid, ou as discriminações, por mais veladas os sutis que sejam, precisam ser separadas, uma das condições para chegarmos a um estagio evoluído do cristianismo pratico, na busca da solidariedade. O sacrifício de heróis e mártires na luta desigual do passado, e as seqüelas, os resíduos de opressão a dignidade, a humilhação as minorias, ora desajustadas, devem servir de exemplo para a recuperação de valores mais justos e de elos perdidos na saga da dignidade.
O escravo configurava-se como um empecilho ideológico a higiene e a modernização. Discursos de diferentes procedências sociais colocavam-se lado a lado com miasmas e insalubridade. Na realidade, alem da condição escrava, o próprio hímen negro-que já havia sido excluído, por ocasião do Pacto Social implicado no Movimento da independência a composição de classes que constituiria, na visão do estado, o controle da nação brasileira-recebia conotações negativas de parte do corpo social.Escravo e negro eram percebidos, na pratica, com a mesma coisa.
O patrimônio simbólico do negro brasileiro (a memória cultural da ÁFRICA) afirmou-se aqui como território político-místico-religioso, para a sua transmissão e preservação. Perdida a antiga dimensão do poder guerreiro, ficou para os membros de uma civilização desprovida de território físico a possibilidade de se “reterritorializar” na diáspora através de um patrimônio simbólico consubstanciado no saber vinculado ao culto dos muitos deuses, à institucionalização das festas, das dramatizações dançadas e das formas musicais. É o egbé, a comunidade litúrgica, o terreiro, que aparece na primeira metade do século dezenove.
TERRITÓRIO POLÍTICO
O saber místico que constituía o ethos da africanidade (com isso também concordam e colaboram Clarêncio Fontes e Genaro de Almeida Brota, o último um pesquisador de Laranjeiras) no Brasil adquiria contornos claramente políticos diante das pressões de todo tipos exercidas contra a comunidade negra. Assim, os espaços que assim se “refaziam” tinham motivações do mesmo tempo míticas e políticas. Veja-se o caso do quilombo: não foi apenas o brande espaço de resistência guerreira. Ao longo da vida brasileira, os quilombos representavam recursos radicais de sobrevivência grupal, com uma forma comunal de vida e modos próprios de organização. Na verdade, “quilombos” eram uma designação de fora (do jargão jurídico da colônia): os negros preferiam chamar seus agrupamentos de “cerca” ou “mocambo”. E iam desde grupos isolados no interior do país até morros (dentro da metrópole carioca) ou a sítios próximos ao território urbano, a exemplo da região da Cabula, em Salvador.
Está por se pesquisar ainda, sobre circunstâncias de vida colonial, no campo étnico em Sergipe. A forma negro-social em Laranjeiras, ou social negro-sergipano, o processo de acomodação de levas e mevas ao longo das conveniência habitacionais e exploratórios econômicos no Vale do Cotinguiba, a opressão e a existência de dezenas de heróis que podem ter sobressaído menos, a ficarem apagados na memória do tempo e dos homens, mas que existiram.
À Casa da Cultura Afro Sergipana, compete mobilizar forças e energia para reverenciar os vultos do passado do negro em Sergipe. O primeiro grande exemplo está à mostra. E a atitude do prefeito de Laranjeiras é original, única no país, criando o “Dia Municipal de Consciência Negra”, como precedente a ser seguido, para conscientização de tantas outras reais e básicas necessidades à valorização do homem. Precisamos despertar a consciência para erros e injustiças do passado, para que reamadureçam na alma da modernidade, dos contemporâneos, e irmãos fronteiriços, ou vizinhos territoriais. Reverenciemos a memória de nossos heróis e mártires, e são quantos (?), à forma grandiloquente desse batavo que agora gera curiosidade e, quem sabe, controvérsia e perquirições...
Jornal a voz do município.
Laranjeiras – Sergipe
Agosto – 1990
ESTADO DE SERGIPE
PREEEITURA MUNICIPAL D E ARACAJU
LEI N. 1858
DE 14 DE JULHO DE 1992
Institui DIA NUNICIPAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA e reconhece JOÃO MULUNGU como HERÓI NEGRO do Município e dá outras providências correlatas.
PREFEITO MUNICIPAL DE ARACAJU:
Faço saber que a Câmara de Vereadores aprovou e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º. - Fica instruído o dia 19 de Janeiro como o “DIA MUNICIPAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA”.
Parágrafo Único – O Dia Municipal da Consciência Negra, previsto no “caput” deste artigo, fará parte do calendário cultural do Município.
Art. 2º. - Reconhece JOÃO MULUNGU como “Herói Negro” pela sua participação e importância na luta contra a escravidão.
ESTADO DE SERGIPE
PREFEITURA MUNICIPAL DE ARACAJU
Art. 3° - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Art.4° - Ficam revogadas as disposições em contrário.
Palácio ‘Inácio Barbosa’, em Aracaju, 14 de Julho de 1992.
WELLINGTON DA MOTA PAIXÃO
PREFEITO DE ARACAJU
Waldemar Bastos Cunha
Secretário Municipal de Governo
Joaquim Prado Feitosa
Secretário Municipal De Planejamento e Finanças
Antonio Jacintho Filho
Procurador Geral do Município
JOÃO-MULUNGU: HERÓI-NEGRO-SERGIPANO
A recuperação da memória negra sergipana, encetada desde 1980 pelo Grupo Regional de Folclore e Arte Cênica Amadorista Castro Alves, através do seu Órgão de Documentação e Pesquisa – Instituto Sergipano de Pesquisa da Cultura Popular Negra – começa a dar os primeiros resultados no sentido de, efetivamente trazer a público a verdadeira imagem e importância dos líderes, heróis lendas, mitos e organização das várias culturas negras existentes na comunidade sergipana.
O GFRACACA/ISPCPN, entidade sergipana de cultura popular e negra, com funcionamento legal, tem objetivos definidos em pesquisas, educação, formação e divulgação das manifestações do contexto cultural e especificamente dos trabalhos junto às comunidades, sendo o candomblé seu ponto de irradiação.
“João Mulungu”, a força da tradição oral, é quem tem possibilitado a tênue recuperação das manifestações negras no Brasil e essa constante se verifica em toda diáspora. O trabalho sobre o levantamento da memória de “João Mulungu” teve início em 1981, através das informações do cineasta Djaldino Mota Moreno ao coordenador geral, José Severo, conhecido nacionalmente por Severo D’Acelino. A referência foi um artigo publica dona “Gazeta de Sergipe” sob o título “Poeira dos Arquivos”, porém as informações ali contidas não eram suficientes para maior envolvimento, até que, em 1984, foram obtidos maiores detalhes e referências documentais. A fonte documental que maior contribuição dará aos estudos da memória do negro sergipano será o Arquivo Judiciário, presta a ser instalado.
Nascido na zona da Cotinguiba , em 1851 ,negro ladino ,liberou diversos quilombos , dando –lhes continuidade pela organização de sua comunidade , na busca de liberdade e dignidade , lutando contra a opressão do dominador e do trabalho hostil . Foi o líder dos quilombos Sergipanos desde o início da manifestação em Estado a partir do século XVII,XIX.
Foi enforcado em Santo Antônio de Aracaju , após sua prisão, a 13 de Janeiro de 1876 ,com apenas 25 anos de idade.
Sua memória está sendo recuperada pelo GRFACACA/ISPCPN, através do cordel, cartaz, palestras,cursos (comunicação e divulgação à comunidade), além de seu nome no auditório da entidade.
A opinião do Conselho Estadual de Cultura, acerca da entidade, pode ser verificada, no item 3o., do processo No 130/84.
“Na comprovância de sua funcionalidade, foram anexadas ao processo, estatutos, textos distribuídos em cursos, comunicações feitas, em eventos culturais e festivais de cultura negra, as quais voltadas para a defesa da história do negro e suas manifestações são das expressivas”.
A existência do grupo e a liderança exercida pelo Sr. José Severo dos Santos, na comunidade ficam comprovadas.
O coordenador Severo é conselheiro do Memorial Zumbi, membro da comissão Sergipana dos humanos, fundador do MNU< GRFCACA/ISPCPN,oni-odé do lylê Opô Airá, técnico cultural, ator, teatrólogo, conferencista e, sobretudo, sergipano do Aribé.
Jornal Á Tarde, 13 de Maio de 1985.
HERÓI NEGRO É REAVALIADO
Eugênio Nascimento
João Mulungu, apontado até agora como o maior herói negro de Sergipe, começa a ter o seu papel questionado. Não se pretende apagar sua importância histórica, mas já se combate o mito através de pesquisas como a que vem sendo realizada pela professora Nelly Santos, do departamento de história da Universidade Federal de Sergipe.
Segundo ela, Mulungu não agiu como um “libertador”, mas sim como um “fujão” que deu muito trabalho aos donos de engenhos, fazendas e a justiça. Nelly Santos aponta outros negros que durante o período da escravidão agiram de formas reconhecidamente heróica e destaca o papel de um branco- Francisco José Alves- como o grande abolicionista sergipano.
A reavaliação da professora surge em um momento oportuno.
Este ano o país comemora 300 anos do maior líder negro, Zumbi dos Palmares, e observa que tanto tempo depois da morte dele, os preconceitos, discriminações e o racismo ainda são muito fortes, apesar de disfarçados.
O mito João Mulungu, apontado por alguns pesquisadores e militantes do movimento negro como o maior herói negro de Sergipe, começa a cair por terra.A sua importância histórica é reconhecida, mas há exageros últimos anos, apontando-o principalmente, como um “libertador de escravos”.
Uma pesquisa que está sendo realizada pela professora Maria Nelly Santos, do departamento de história da Universidade Federal de Sergipe, mostra Mulungu como um “fujão”, e “saqueador”, que deu muito trabalho aos “donos de escravos”, mas desconhece que ele tenha executa a tarefa heróica de libertador que hoje é atribuída.
Segundo a professora, criou-se uma série de fantasias em torno dele, mas “o seu papel histórico no período da escravidão não pode e não deve ser negado”. Na pesquisa que vem realizando nos arquivos públicos e do poder judiciário, Nelly Santos detectou que a participação de Mulungu em saques e as suas fugas lhe rederam muita fama.
Nascido no município de Itabaiana, e não em Laranjeiras, como foi muito divulgado, ele conseguiu fazer fama quando entre 17 e22 anos deixa a companhia da mãe, Maria, escrava de José Inácio do Prado proprietário do engenho Quindonga, e inicia um processo de andança que termina, em sua primeira fase, em Laranjeiras. Lá passa a ser escravo do engenho Mulungu, de João de Pinheiro Mendonça, onde sofre torturas e espancamentos que motivaram anos depois as duas primeiras fugas. “Ele fugiu não pensando em se tornar um homem livre e trabalhar para libertar os demais negros, mas sim para buscar um novo senhor”, explica a professora.
Recapturado nas primeiras aventuras, Mulungu volta ao engenho de Mendonça e sofre as conseqüências do seu ato. Revoltado, foge pela terceira vez em 1868 e fica por oito anos promovendo andanças e saques até ser preso em 1876 pelo capitão João Batista da Rocha Banha, o “João Banha”, que, conforme as fontes pesquisadas, trata-o como um bandido. A prisão acontece no engenho Flor da Roda, em Laranjeiras.
Antes de sua prisão, Mulungu teria praticado delitos nos municípios de Itabaiana, Capela, Divina Pastora, Japaratuba, Laranjeiras, Rosário do Catete e Aracaju. Em alguns, chegou a ser submetido a julgamento e foi condenado por homicídios, espancamentos, saques, etc. A justiça o classificava como um elemento perigoso.
Alguns pesquisadores dizem que no presido o “herói” negro resolveu se enforca pare não ter que retornar a condição de escravo ou para outros, para evitar a pena de morte . Não há informação sobre esse fato.
Mulungu, na época de sua morte era moço tinha poço mas de trinta anos, e nenhum documento da o indicativo do enforcamento por quaisquer motivos já revelado” diz Nelly Santos.
NOVOS LÍDERES
O papel de atuar como libertador que Mulungu não cumpre, apesar de alguns militares do movimento comparem-no a Zumbi dos Palmares, executado por Frutuoso, Laureano, Dionizio e Saturnino. Os dois primeiro tem atuação destacada nos anos 70 e os outros dois nos anos 80 do século passado.
Os quatro novos heróis invadem fazendas e engenhos e libertam escravos, prendem escravocratas e demonstram uma atuação mais intensa pensando de forma coletiva, no conjunto, coisa que Mulungu não fez e tem ações individualistas, segundo a pesquisadora.
“O próprio Mulungu, em um de seus depoimentos chega a afirmar que praticava saques, mas não libertava escravos. A fama que conseguiu esporos demais João Mulungu, que passou a se acusado por tudo que acontecia mesmo não tendo qualquer envolvimento”.
Com a aprovação da Lei do Ventre Livre, em 28 de Setembro de1871, as fugas de escravos se tornam intensas ate a Abolição da escravatura pela Princesa Izabel através da Lei Áurea, datada de 13 de Maio de1888.
Neste período são registrados muitos conflitos entre negros e brancos em todo pais, alguns dos quais, em Sergipe terminam na justiça.
UM HEROI BRANCO
Além de enfrentar a rebeldia e as fugas dos escravos, os senhores de engenho tiveram que enfrentar a oposição radical de Francisco Jose Alves ,um descendente de português que atua como abolicionista em Sergipe.
Ele mantinha dois jornais –o Libertador e o Descrito –como trincheira de luta com os escravos.
Nos anos 80 os dois jornais, funcionavam como órgãos de comunicação alternativos, denunciavam os abusos praticados por donos de escravos e eram utilizados até mesmo para libertar negro presos e conseguir certas de alforria. Há índios, segundo Nelly Santos, de que Alves libertou mais escravos que o fundo especial criado pela coroa para adotar tal iniciativa.
Ele era um homem de caráter, um destemido. Matinha em sua casa em Aracaju uma escola para alfabetizar os filho de escravos. “Francisco Alves realmente luto pela abolição da escravatura e o seu papel tem que ser reconhecido”, comenta.
Francisco Aves também recebia em seus escravos fugitivos e os alimentava. Antes de ingressar na luta contra a escravidão, era militante do partido Conservador. Depois torna-se liberal. Ele nasceu em 1825 em Itaporanga D’ajuda e morreu em Estância, em 1896.
QUILOMBOS
Sempre que se pronuncia a palavra Quilombos de imediato se associa a palmares, o maior e mais importante foco de resistência magra do país, que durol de 1600 a 1695 na região serrana de alagoas e abrigou milhares de negros que fugiam das fazendas e engenhos.
Mais Sergipe também teve os seus quilombos. Os principais ficavam localizados nos municípios de Capela, itabaiana, Divina Pastora e itaporanga D Ajuda. Os focos de resistência dos escravos fugidos não eram fixos Os quilombolas (moradores dos quilombos) se mudavam bastante.
As mudanças eram adotadas por questões estratégicas, para evitar que os quilombos normalmente abrigavam vários mocambos (locais em que pequenos grupos se estabeleciam uns próximos aos outros) como uma média de cinco pessoas em cada, diz a pesquisadora.
Nelly Santos está realizando estudo sobre a escravidão no agreste sergipano no período de 1888 e não gosta de utilizar a palavra quilombo ao referir-se aos focos de resistência. A expressão quilombo era utilizada pela policia, os negros usavam o termo rancho, explicar.
A escravidão no Brasil começa em 1538 e em Sergipe o inicio acontece cerca de 15 anos após. No auge, o numero de escravos chegou a superar 16 mil.
Jornal Universidade Viva, Outubro de 1995.
JOAO MULUNGU
Severo D’Acelino
Nascido na Vila de Laranjeiras, na Província de Sergipe Del Rey, no ano de 1851, escravo do Engenho Flor da Rosa. Neste período Laranjeiras liderava o pensamento revolucionário de Sergipe, já há muito notadamente, no sentimento antilusitano em prol republicano, tendo sido, portanto palco de debates acirrados de idéias revolucionárias e como conseqüência, fonte de inspirações dos episódios de resistência da comunidade negra, contra igualmente os lusitanos e por conseguintes os senhores de escravos que cristalizavam o regime de desigualdade social e econômica.
Neste ambiente de ebulição política, foi que o nosso libertário JOÃO MULUNGU cresceu acentuando a sua consciência libertária e ampliando seus conhecimentos do processo conjuntural da Província e daí, estendendo-o a sua comunidade como forma de luta em busca de liberdade ampla, geral e irrestrita.
Sua fuga para o quilombo não há dados formais documentados, mas na lógica dedutiva he de se supor que começou no próprio engenho, na mobilização junto com os grupos predatórios para depois do precoce aprendizado, liderar seu próprio grupo, na luta contra o inimigo mais imediato.
Há noticias diversas dos seus episódios, notadamente as de visões institucionais em cujas interpretações, são desfavoráveis a sua memória, no entanto as visões e interpretações distorcidas tendem com o tempo, diluir e oferecer melhor nitidez a compreensão historia dos fatos a luz da consciência do oprimido, dentro das relações do poder exemplificado no dia a dia da história da humanidade.
A área de atuação de JOÃO MULUNGU, centralizada em Laranjeiras, com variáveis no Vale do Cotinguiba, Japaratuba, Vaza-Barris, Piauí e Poxim, como ponto de referencia estratégica na luta contra o sistema e seu instrumento de repressão: a política.
“MAIOR E MAIS TEMIDO QUILOMBOLA DE SERGIPE”
Assim era denominado pelo poder, para justificar a sua incapacidade de organização ante a força obstinada de JOÃO MULUNGU, na organização e luta da comunidade que a cada dia ampliava o contingente levantado, minando a economia e a organização política da Província, apoiado pelos diversos grupos insatisfeitos com o poder central e local, notadamente as disputas dos Conselhos dos governado e nas corporações militares.
JOÃO MULUNGU
Materializou o pensamento de ANTÔNIO PEREIRA REBOUÇAS, o maior revolucionário negro em Sergipe, a quem deve o estimulo a luta organizada contra o opressor. Foi também usado como trampolim pelo poder e em seu nome os poderosos se utilizaram para legitimar os abusos de poder e ampliar seus patrimônios, saqueando a Província e mandando matar seus adversários políticos e econômicos.
JOÃO MULUNGU
Foi traído por seu antigo companheiro, um escravo do Engenho Flor da Roda, por uns míseros trocados. Fora preso de tocaia no Engenho Flor da Roda, as sombras dos bananais daquele canavial, enquanto que descansava com seus companheiros, Manoel Jurema e Galdino, as 12:00hs do dia 19 de Janeiro de 1876 na Vila de Laranjeiras. Há noticias no relatório do Presidente da Província de que “João Mulungu, preso no dia 13 de janeiro, após cinco dias e cinco noites de combate, em Divina Pastora, preferiu ser enforcado a voltar para a casa do seu antigo senhor”, isso é só uma mostra documental das distorções do poder, pois documentos comprovam que em inicio de Setembro ao final de Novembro, JOÃO MULUNGU, estava em Capela cumprindo pena, condenado pelo juiz da Vila de Rosário.
Para não cair em contradição junto ao central, após ter comunicado que os quilombos na Província haviam acabado, o Presidente baniu JOÃO MULUNGU, da documentação institucional e da História de Sergipe, pois a verdade é que o número de quilombos aumentou até depois de proclamada a Lei Áurea.
LUTA PELO RECONHECIMENTO
A noticia sobre JOÃO MULUNGU, nos fora dada pelo cineasta Djaldino Mota Moreno, interessado em filmar a historia deste famoso quilombo sergipano em super-8, baseado na noticia publicada na coluna Poeira dos Arquivos da Gazeta de Sergipe, nos anos 70 de Autoria de Acrisio Torres. Daí então, despertamos para o fato e iniciamos a pesquisa. O filme não fora feito, mas a vontade de conhecer os episódios de tão importante personagem negro da Historia de Sergipe, continuou gerando uma consciência ampla da importância da resistência negra em Sergipe. A pesquisa tomou corpo e vimos muitos e diversos documentos referenciais sobre o personagem: Ariosvaldo Figueiredo, Lourival Santos, Roberto Conrad além das pesquisas nos arquivos: Publico e Judiciário de Sergipe, Biblioteca Epifânio Dórea, etc., até a elaboração de parecer e apresentação de projetos a Assembléia Legislativa, que foram aprovados e sancionados pelos prefeitos Valter Franco e Wellington da Mota Paixão.
JOÃO MULUNGU
Herói negro sergipano, contestado por uns, aplaudido por outros. As controvérsias,distorções e contradições a ele atribuídas,parte da ignorância e do preconceito e sobretudo , do despeito e desrespeito que nutrem e até o desconhecimento da história das controvérsias sobre os Heróis e até o desconhecimento da história das controvérsias sobre os Heróis Nacionais criados nas caladas das noites e cultuados pela inteligência brasileira.
Introduzido com o advento da escravidão em Sergipe, o negro lutou tenazmente contra o apartheid político, sócio-econômico e cultural, através dos seus diversos agentes tradicionais marcando profundamente a alma do povo sergipano recriando seus valores estéticos , morais ,religiosos históricos, filosóficos e culturais , compondo suas lideranças ,organizações e grupos organizados, elites e heróis.
JOÃO MULUNGU
Protagonista da resistência do segundo quartel do século XIX, liderado a comunidade negra nas organizações guerreiras dos quilombos predatórios em busca da libertação do julgo escravista.
O libertário Afro Sergipano, seguramente da Nações Nagô , homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras cristalizando entre nós o valor de sua magnanimidade, reconhecido 114 anos depois , através dos esforços da Casa de cultura Afro Sergipana pelos poderes públicas de Sergipe , como Herói Negro Sergipano , elevando esta categoria pelos feitos magnânimos a humanidade e consciência política de ancestralidade do Negro Sergipano , constituído-se no primeiro Herói Negro no Brasil a ser reconhecido pelos poderes públicos.
Em dezembro de 1989 é inteirado à Categoria de Herói Estadual pelo Decreto.
MANIFESTO “JOÃO MULUNGU”
Severo D’Acelino
O discurso contraditório acerca de qualquer afirmativa se nos apresenta como uma grande contribuição ao debate do tema posto em questão. Neste sentido as relações das achegas a histórias possibilitará maiores estudos revitalizantes no repensar da própria historia, cheia de contradições já há muito cristalizada.
A problemática da Historia do Negro brasileiro, cheia de desencontros e embaçada na visão institucional e distorcida a cada abordagem, ate a de historiadores negros, uma vez que compromisso com a questão é um exercício de ideologia na busca constante de novos valores e fatos que direciona a raiz do conflito para extrair as hipóteses para formulações de propostas que configuram o perfil através dos diversos indicadores exaustivamente analisados a luz da época e da fonte, para tirar um diagnostico sustentável.
A introdução nos leva a questão de “JOÃO MULUNGU”, cuja existência em Sergipe Del Rey em 1851 a 1876 (?) está fartamente documentada e sinalizada como o maior líder dos quilombos Sergipanos, banido da historiografia e documentação oficial, a partir de Novembro de 1876, posto que maquiaram as insurreições escravas após a dita prisão e enforcamento de JOÃO MULUNGU.
A historiografia moderna sergipana, nada conhece sobre o personagem e nada se produz a seu respeito, tendo como única fonte de referencia bibliografia, o livro de Ariosvaldo de Figueiredo “O Negro e a Violência do Branco”.
O resgate da memória de JOÃO MULUNGU e o seu reconhecimento pelo poder publico municipal de Laranjeiras e Aracaju, despertou a ira e o despeito de alguns negros que, sistematicamente negam a existência do personagem, adjetivando-o de ladrão, traidor e assassino, sem jamais produzir qualquer documento que comprove suas afirmativas, alem da duvida que produz sobre o único referencial negro de Sergipe, por pura ignorância, má informação e formação.
Ressalta-se o coletivo de Heróis Nacionais, que em seus feitos, muitas duvidas levantam ate hoje, inclusive sobre as suas dignidades. Todos eles, heróis do sistema e esses nobres estudiosos sergipanos jamais levantaram as vozes para protestar porque Caxias é Herói Nacional e recebe culto de toda a nação.
Ao iniciar a luta em direção ao resgate da Memória Afro Negro Sergipano, foi movido pelo impulso de conhecer as manifestações e indicadores, trazidos e pela ancestralidade negro sergipano e conferir algumas informações colhidas no seio da família vivida nos canaviais e a citações esparsas dos episódios vividos pelos negros no período da escravidão.
O reconhecimento de JOÃO MULUNGU, é apesar da polemica para atingir não a uma idéia, mas a nossa pessoa ante a capacidade de rebuscamento é uma vitória do Movimento negro, que no seu interior é extremamente hostil e discriminatório, onde a pluralidade de idéias propiciais ao debate, a geração de novos questionamentos e pratica da democracia do mais forte, que a despeito de criticar e querer mudar o sistema, se utiliza dos seus instrumentos para embrutecer, cooptar e cortar as cabeças dos que não aceitam a submissão do grupo dominante e nisto a democracia é sinônimo de autocracia, a famosa ditadura dos arrogantes que como mariposas, giram em torno do poder.
Mu padá mo iro okourim – propicia a abertura de mentes e consciência para concordarem ou discordarem na participação nas decisões que visem o crescimento do coletivo negro afro sergipano, buscando a valorização do nosso imenso arquivo humano e garantindo as gerações vindouras a planificação da unidade na diversidade, produto do negro do passado, presente e continuadamente para o futuro sem problemas de continuidade. É conhecendo o nosso passado que faremos o nosso futuro, vivendo a realidade presente, sem falsas esperanças e sem o modismo idiossincrásico.
No sentido de esclarecer melhor a importância de JOÃO MULUNGU na historiografia do negro sergipano, buscando através do debate a contribuição efetiva a releitura de nossos episódios e leitura do nosso herói, numa avaliação da documentação existente.
Nos dias de hoje, a ação policial em cima do negro, exemplifica os idos da escravidão, como herança estratégica do sistema de controle e segmentação das disparidades e desigualdade das relações sócias e humanas com forte conotação político-economico, tendo o poder como status e o sistema como instrumento.
O negro no sistema jurídico/penitenciário no Brasil hoje tem seu maior algoz nas delegacias, suas câmaras de tortura, físico-psicomoral que nem os Direitos Humanos conseguem romper as tradicionais barreiras com direito a advogados, etc. E na época do escravismo, qual o direito que tinha o negro? Ali e aqui o negro sente dor sem gemer. Afirma que crucificou o próprio Cristo (referencia a cultura dominante) assim ou afirma o que lhes mandaram assinar ou afirmar. A redação é sempre do opressor, ou seja, agentes do sistema segundo o tom que lhes aprouver, ante a situação e personagens implícitos.
Como a cara professora de historia, no afã de lançar o descrédito ao trabalho tão significativo de Entidade não-governamental, quer reafirmar os autos fraudulentos e carregados nas tintas, dos processos imputados ao personagem JOÃO MULUNGU, sem refletir nos ensinamentos de suas mestras, na própria universidade, em apurar e analisar os documentos dentro da conjuntura, buscando todas as vertentes e tendências para uma melhor interpretação das variáveis implícitas, de forma impessoal.
Sergipe busca, através do seu grupo acadêmico, fazer releitura documental da historia e cultura sergipana, sem priorizar “documentos” pois, nem sempre eles fazem a historia e sim analise dos fatos a luz da modernidade, respeitando a diversidade e pluralidade cultural nos episódios objetos de preocupação e pesquisas. O escravo reagio a experiência da violência, ao exercício de violência a que era objeto.
REFORMULAÇÃO E REVISÃO DA HISTORIA DO NEGRO SERGIPANO.
Pensamento insólito da professora de historia, contra o direito da revisão e da reformulação dos fatos, historias e pareceres, sem atentar que os heróis institucionais de hoje, foram os bandidos de ontem.
ADVERTENCIA a visão anacrônica de historias. A subjetividade de uma professora de historia, em relação ao objeto de nossas preocupações e pesquisas ao memorial do Arquivo Humano Afro Sergipano, particularmente, o Herói JOÃO MULUNGU, chega as raias do bizarrismo, quando nega as características da personalidade do personagem acentuando e cristalizando e sobretudo, sem direito algum, secularmente escamoteado e explicitamente explorado e que reage de acordo com as ações sofridas.
Sabe-se que no mínimo a luta por sobrevivência dos povos oprimidos passa-se efetivamente por uma reação a situação, daí as diversas e variáveis lutas e que jamais o dominador ofereceu direitos e oportunidades dos seus valores restritos, para defasa do oprimido.
Diz a nobre professora, numa visão distorcida da historia e realidade social escravista, baseada em auto jurídicos, que o personagem não pode ser considerado herói, tendo em vista que era malfeitor, assassino, traidor e seqüestrador. Na sua ação precipitada sem a visão analítica, visa sobre tudo desacreditar o esforços da casa de cultura Afro Sergipana e seu presidente na ação de resgate e valorização do Arquivo Humano Afro Sergipano e sobretudo, provar a sua força institucional pela função daquela instituição que é a defesa do livre debate promoção dos valores plurais e respeito a diversidade.
A inteligência acadêmica corre o risco de perpetuar os erros seculares da historiografia institucional, se fortalecer os desvarios pessoais da professora de história que ainda vê o Egito fora do mundo africano e nega a descendência racial de Cleópatra e outros faraós. A negação cultural nos leva a lamentar que ainda se caracteriza nos seios acadêmicos, pesquisadores e professores de visões institucionais para diagnosticar pareceres, sócio-histórico-culturais, reduzindo o espaço para o livre debate oferecer novos valores a humanidade e resgate de suas histórias.
O silêncio, escamoteando a história, foi o maior engodo contra João Mulungu, quando não mais precisava de sua ação para as promoções pessoais. Durante muitos anos, a existência de João Mulungu, foi útil aos propósitos do sistema, para justificar as propostas que encobriam os projetos pessoais e as mentiras arquitetadas. Junta-se essa onda de engodos e mentiras sobre as ações dos escravos e perpetuou o silêncio contra a Revolução Negra e seus lideres, notadamente João Mulungu que, no terceiro Quartel do século XIX, provocou o maior movimento contra o sistema e abortou diversos projetos fisiológicos, daí a ocultação de suas ações como conseqüência de uma reação coletiva a que liderava. Apesar da Revolução Negra liderada por João Mulungu ter sido o marco mais importante da história do Negro Sergipano e a que mais repercussão teve, faz-se silêncio e manipulam-se informações numa ação programada de escamoteamento da verdadeira importância do negro, dando importância maior a fatos isolados, tendo sempre o interesse em distorcer os fatos, na maior violência histórica da província.
A manipulação de dados pelo presidente da Província, através de relatórios, ofícios e outros artifícios, promoveu uma barreira para impedir as respostas que levariam a verdade dos fatos e, a historiografia oficial aproveitou-se dos “testemunho” documentais devidamente maquiados, para reforçar a frase do poder institucional da elite escravista, a fim de cristalizar a mentira histórica.
A fraude histórica, perpetuante de interesse escusos e contraditórios, sinaliza a inexistência de debate dos fatos, numa Análise circunstancial da multidisciplinar dos valores interculturais.
No transcurso da análise documental primaria, verificamos que os fatos quando abordados por historiadores, são assinalados erroneamente sem a preocupação de verificar os múltiplos acontecimentos cronológicos determinantes da causa e conseqüência das reações dos escravos, antes as acusações que lhes são imputadas e transcrevem pura e simplesmente como ação fechada. O não merecimento de uma análise mais acentuada dos documentos é que a mentira tem sido permanente, acentuando o fisiologismo liberal.
Assinalamos que coube ao negro, mais que o índio e o branco a defesa da província: contra os franceses, os holandeses e portugueses, só que isso não é ressaltado. Observa-se que os negros sempre derem combates contra os portugueses, efetivamente essa questão é enfatizada, quando os brancos brasileiro explicitam sua versão lusitana e para fugir das responsabilidades dos seus atos, utilizam negros como agentes da ações, exigidas retaliações aos negros e seus lidere, silenciando a sua importância histórica e social, política e econômica no processo conjuntural da independência como um todo.
Ariosvaldo Figueiredo, um dos maiores críticos contemporâneos da violência contra o negro, infelizmente caiu na armadilha documental e acentua a farsa contra João Mulungu, registrado sua morte física histórica , conforme os anais dos famigerados ‘‘RELATORIOS.’’ Outros o seguiram, por tanto a nossa historia cabe uma revisão, para investigar as verdadeiras causas como origem da ação formulada e sua conseqüências como questões geradoras.
O poder paralelo exercido pelo quilombistas, foi útil para a elite até a consumação dos seus interesses, só que poderiam jamais controlar as lideranças e o manifesto de participação parietária dos negros ate as fragmentação do poder do sistema (da denominação do sistema ) que teimava em excluir os negros da sociedade escravista .
A ação da revolução Negra ,simbolizou sobretudo, a consciência máxima de defesa da nacionalidade; a luta pela independência nacional, chegando ao genocídio de um povo que não se rendia para conquistar a liberdade.
A Guerra do Paraguai Foi executada pelo esforço e sangue do negro, que, Substituindo os seus Senhores, Conforme decreto emitido, engrossaram as fileiras do esquadrão suicida e genocida, que no Paraguai foram abatidos, Para que os brancos trucidassem milhares de crianças que defendiam o solo pátrio.
Cada convocado a Guerra do Paraguai, seria dispensado se pagasse uma multa ou entregasse negros, foi a Primeira vez na história colonial que o branco se igualou ao negro.
A penalidade imputada a João Mulungu, pela formulação de um processo Plantado, que visto á luz do Próprio código, levaria seus companheiros a simples chibatadas, mas manipularam e distorceram os fatos dando uma conotação bizarra ao fato e João Mulungu, fora sentenciado a 1 ano de galés e seus dois lugares-tenentes a galé perpétua.
O manifesto das ações dos escravos, notadamente a Revolução Negra, foram conseqüência da violência política, econômica, e social da escravidão como questão geradora do conflito.
JOÂO MULUNGU E O MODELO AFRO SERGIPANO
Severo D’Acelino
A configuração temática, remete-nos se não a revisão do contexto sobre o qual repousa a nossa ação de agentes transformadores ou nos leva a indagações acerca da formulação do próprio tema em tentar estabelecer conceitos diversos. Partindo de que a ideologia da dominação tende sempre atrasar e confundir a formação do pensamento dos dominados e que ela domina intensamente, determinando valores e impondo comportamentos, normas e moldes para os dominados reproduzirem em larga escala, copiando e incorporando os signos, tipos e símbolos da dominação como indicadores do modelo que se servir de exemplo ou normas.
Nós, os negros sergipanos, historicamente, estivemos sempre sobre dois signos de valores distintos como estrutura de poder emanador, definindo os núcleos e áreas culturais, produzindo e impondo normas de ações e procedimentos a que fomos reproduzindo sistematicamente, a ponto de confundir nossa entidade coletiva. Estes signos são respectivamente Bahia e Pernambuco. Hoje tanto a Bahia quanto Pernambuco e Alagoas, têm seus modelos próprios de ação, competindo entre si o poder de exportação no âmbito de influenciar novos valores sistematicamente renovados numa dinâmica célere que ultrapassa os novos enfoques tecnológicos.
João Mulungu, o herói negro sergipano, questionado, rejeitado por imagens distorcidas de uma recriação do modelo burguês, praticado por nós, agentes de uma cultura não de resistência, mas de dominação, é sobretudo, um herói revivido que ampliará a sombra de dúvidas os referenciais para uma revolução da filosofia do negro sergipano em busca da construção da nossa identidade cheia de hiatos e imagens distorcidas pelas constantes interferências que, nós mesmos, por comodismo, incorporamos a nossa formação e cristalizamos pela idiossincrasia desde os modelos importados no norte europeu. Como denuncia, Núbia Marques, em seu discurso aos formandos da U.F.S., até o vicinal, omitindo os limites das nossas zonas, áreas e núcleos culturais, tão cheios e tão ricos de variáveis e conteúdos distintos, costumes, tradições, formas de agir e pensar, com suas histórias, elites e conjunto organizado de idéias, técnica de subsistência, falares, etc.
Hoje não há espaço para recriações ou readaptações, quando não temos formulado e mantido o conjunto de ações que caracterizam as nossas áreas culturais, principalmente com o desenvolvimento do turismo, que hoje exige muito mais a configuração regional com a memória e imagem ancestral e a marca ou signo característico da região local, em todo o seu conteúdo, sem oportunizar as imitações a que fomos, até então, por comodismo, agentes difusores, na medida em que reproduzíamos em larga escala, os modelos dos outros e os incorporávamos como nosso, desprezando a nossa identidade social e cultural.
Exemplifica-se o modelo afro baiano, que até o mais desinformado percebe a manipulação do seu espaço, pela reação do corpo estanho à sua vida, pela invasão da privacidade.
O nosso modelo tem um arquétipo da cultura de submissão, a que temos vivido e a que temos cultuado, por comodismo, aceitando, acostumados, o autoritarismo do Estado e do governo, bem como, pela expressão do mandarinato daqueles que, no nível de poder, exercem para a manutenção cristalizadora do esmagamento cultural dos que, na periferia do poder, produzem sem, contudo, se prevalecer, os parias da ideologia do vilipendio.
Nós, os negros sergipanos, e a burguesia de Sergipe sempre estivemos a depender da Bahia e, nem mesmo assim, aprendemos, com ela, a sobreviver dentro dos nossos padrões, espelhados pelos baianos, na sua sagacidade e na cristalização de sua cultura, voltada para eles mesmos e expandidas aos demais recantos. Essa dependência histórica cristalizou-se e denuncia o imobilismo do sergipano, enquanto povo, Estado e poder.
Apesar de haver limites claros e definidos no âmbito dos nossos costumes e manifestações, o que pesa na grande carga da nossa área cultural emanada da Bahia, temos, sobretudo, identidade e personalidade cultural, mesmo omissa em nossa prática do dia-a-dia.
Exemplo histórico, vem do último quartel do Século XVI, na associação dos escravos da Bahia aos daqui de Sergipe, que foi construído o primeiro quilombo agrícola do Brasil, aqui em terras sergipanas na região do Rio Real. O célebre quilombo de Itapicuru dos Palmares, em 1601, exemplo este, marco da organização da resistência Negra em Sergipe, desvalorizada e diminuída sua importância pelos historiadores institucionais sergipanos, que atribuem ao negro o mesmo valor e importância que os dominadores atribuíam e até hoje, o negro conforme a visão do poder colonial. Este quilombo estrategicamente localizado tinha o objetivo de dar resistência contra a mobilização das tropas por terra, dificultando o acesso ás Capitanias de Pernambuco e Sergipe, bem como, dificultar o processo de colonização e, neste sentido, associados aos índios e aos franceses, os negros de Sergipe e Bahia desenvolviam uma tarefa de aglutinar os diversos negros e índios, numa área em defesa comum que após a destruição, foi retomado na Serra da Barriga com remanescentes de Itapicuru, numa demonstração de uma unidade panafricanista colocando em relevo a filosofia do coletivo acima do tribalismo étnico.
A resistência negra na Bahia é bem documentada e suas lideranças reconhecidas através de múltiplas manifestações do memorial do Negro baiano, cuja produção é assinalada continuadamente, tendo seu Arquivo Humano densamente explicitado. Em Sergipe, a presença da Bahia na luta da resistência negra, ressalta-se, também, pela presença de Antônio Pereira Rebouças, como mola mestre e delineação do aporte político á Resistência no seio do poder sem, contudo, delinear modelo.
A despeito da historiografia do negro brasileiro ter evoluído nos últimos anos, a do negro sergipano não se pode dizer que tem acompanhado, contribuindo com novas achegas, uma vez que, o pensamento dos agentes da historiografia, do Estado, continua cristalizado e parado no Século XVI, impedindo a evolução e a produção de um novo pensamento, contemplando a análise dedutiva e o reconhecimento da tradição oral, daí, em evidência, a documentação produzida pelo Estado, documentação esta, marcada pelos conflitos de interesses e pelas contradições onde o negro é visto pelo crivo da autoridade e do pensamento dominante, para o qual o negro como agente de transformação social e política, inexiste até os dias de hoje e a idéia de ter um negro no Panteão de Heróis, agita a idéia de pureza do poder, principalmente quando esse negro é apresentado por negro e que não foi adotado pelo sistema, como outros que tiveram seus serviços cooptados pelo sistema, exemplificando, o emérito Tobias Barreto, que empresta seu nome a maior comenda de Sergipe.
Neste sentido, as contribuições da Bahia á Sergipe é mesmo a dependência deste e não invalida a ruptura de nossa identidade nem a omissão dos nossos valores ou despreza do nosso patrimônio histórico, e cultural ou assinalar o nosso desenvolvimento em busca a revisão da nossa história na revisitação da nossa ancestralidade e reconhecimento do nosso Arquivo Humano, revitalização e manutenção das nossas tradições.
DOCUMENTOS
Não há lisura nos documentos institucionais produzidos em Sergipe no Século XIX, notadamente os relativos aos escravos (rebelião dos). São capciosos dúbios na redação, estilo e intenção, haja visto o conflito de interesses explicitados. A distorção vai dos Juizes aos escrivães; dos Presidentes das Províncias, aos delegados, num universo múltiplo e obscuro interesses em serem simpáticos ao poder imediato.
A Fraude é explicita e no dizer no eminente pesquisador sergipano Ariosvaldo Figueiredo, eles “carregavam nas tintas “ , talvez com o expresso interesse de maquiar os fatos, ampliando , diminuindo e omitindo, com o fio de plantar idéias, apresentando as “suas verdades “. A fraude demonstra a prática de manipulação do poder na consecução dos seus objetivos e, nisto , exemplifica a configuração de João mulungu, que até 01 de setembro de 1876, foi usado pelo poder e sistema corrupto de Sergipe, onde todos saíram ganhando com o engodo que aprontaram , até que se prove o contrário, através de documentos que ateste outra personalidade de João mulungu, relativo aos processos que lhe foram imputados, porque a pena assinada em setembro, desmoraliza-o e diminui a sua importância, ampliando mais ainda o desconforto da fraude dos poderes constituídos em fabricar eventos para distorcer a história.
A falta de documentos, leva- nos a promover a ação dedutiva numa forma de conduzir o manifesto histórico do personagem, dentro de um anverso arqueológico.
CONTROVÉRSIAS SOBRE JOÃO MULUNGU
Severo D’Acelino
Os atores da controvérsia sobre João Mulungu, o negro herói sergipano, paradoxalmente são os negros ditos “militantes” cultores das obras que se vêem pela ótica do dominador e praticantes da idiossincrasia cultural e histórica. Cultuam os heróis dos outros para não terem o trabalho de construir seus próprios heróis, por que aí teriam a responsabilidade de difundi-los, mantê-los e revisita-los afirmando as suas identidades.
A controvérsia da história é fundamental para ampliar as discussões e nos debates ampliar raciocínio através das diversas contribuições e achegas ao tema. Destaca a importância da interpretação que apresenta melhor critério justificado, coerente, atualizado nas informações e referencias das fontes, baseado na conclusão de que há insuficiências nas outras respostas.
Evidentemente que o negro, enquanto tema da história, sempre dá margem a juízos apressados por estar ligado a preconceitos e ser agente do grupo marginalizado. O herói é a dominante que ilumina estrategicamente a identidade do sistema. Rastrear o percurso e a tipologia do herói, é procurar as pegadas dotal sistema.
Os heróis clássicos, são os heróis da classe alta (do poder), que procura demonstrar “a classe” desta classe. Há personagens da história de um povo que personificam a “alma” deste povo, segundo a ideologia, que num certo momento seja a dominante. No que se refere aos heróis, a classe dominante sempre procurou e elevar os seus representantes como os altos, fazendo os “Altos” aparecerem com elevado e mostrando “ baixa” como inferior, mostrando como a classe dominante, domina ideologicamente a sociedade, e isso se exemplifica no comportamento do negro sergipano que torce o nariz e despreza João Mulungu, como herói negro sergipano, fazendo a verdadeira apologia, a herói constituí dos de outros regiões, principalmente os cantados em prosas e versos.
Os heróis indicados pelo poder, são os da moda, ditados pela mídia. Isso mostra o quanto os nossos negros são comprometidos com a história do negro sergipano. Simplesmente demonstra que são macacos e vivem de macaquear-se imitando a sombra do poste.
É necessário que a controvérsia seja explicita e impessoal para:
a) Realização de um fórum de debates, para múltiplas abordagens e contribuições.
b) Estimular a discussão sobre João Mulungu.
c)-Apresentar a analise dos seus feitos trajetórios.
d) Analisar os documentos institucionais a ele referidos.
e)-Participar do processo de revisão da história do negro sergipano.
f)-Tomar posição e desenvolvimento critico, destacando a importância da interpretação e do conhecimento histórico.
A controvérsia é importante pela múltipla interpretação, notadamente as antagônica e conflitantes, e essa é a de depurar o interesse na construção do pensamento dos agentes, saindo da superfície e buscando a profundidade sem limites. Um debate aberto, não uma reação irresponsável e comodista daqueles que não querem sair do imobilismo e vivem de construir sobre os escombros dos outros.
Não deve ser discriminado o negro que faz apologia ao herói branco, isso é, ao herói dominador, mas devemos ver com cautela o negro que despreza seu próprio herói e sua cultura regional , numa insegurança que faz ate o branco questionar o ser negro da casa grande (que o negro da case grande não quer voltar para a senzala ).Daí incide a questão de identidade.
Mesmo sabendo que o negro do eito, nunca teve medo de feitor ou senhor, mas o negro da Casagrande é uma peste, a vergonha da raça, um parasita, não toma decisões a não ser para apologia do seu senhor.
Se o sergipano desse valor as coisas de Sergipe, certamente que o negro sergipano teria uma outra postura em defesa de suas historia, suas tradições e sobretudo, Itapicuru dos Palmares estaria na história do BRASIL, explicitamente a importância da resistência Negra sergipana e a importância do negro sergipano a nível de resistência nacional, sobretudo a sua participação em Palmares da Serra da Barriga em formação e trajetória. Mas isso só acontecera quando algum brasilianista se interessar pela saga do negro sergipano , seja contra o processo de colonização, seja nas múltiplas razoes , Feita por causa deste imobilismo que Dias D’Ávila anexou as nossas terras a Casa da Torre e hoje o Recôncavo e baiano, pelas vacas da Torre do Mestre do Campo, hoje o Nordeste começa a perder a sua identidade regional pela baianizaçao dos trios elétricos , pela batida do Olodum e picadas da Timbalada.
No que se refere a João Mulungu, o que ser reavaliado e a nossa postura, enquanto negros improdutivos e imobilistas de terceira categoria, independente do salário que recebemos,. E a nossa formação e consciência. E o nosso discurso, e a nossa dignidade de negros espoliados, vilipendiados numa sociedade excludente a que somos maioria e moremos dizendo que minoria, por medo de tomar decisões e assumir nossa negritude, que mascaramos e maquiamos para fugir do grupo étnico e nos identificar como branco. E a nossa vergonha que deve ser reavaliada. É o nosso comportamento desrespeitoso para com o próprio negro. É a nossa participação. São as nossas relações intra-racial e humanas que devem ser reavaliadas. Reavaliando-as teremos o negro “nu” em frente ao espelho, sem adereços ou fantasia. O negro visto por ele mesmo, sem a preocupação de se ver branco.
Reavaliar sim, os pscudos professores de historia, ditos historiadores, que praticam o HISTORISMO por incompetência..
A identidade de nos Negros Sergipanos, passa pelo conhecimento, respeito e valorização de Nossa Culturas Negras, Nossos Heróis , Nossas Tradições e sobretudo ,da Extensão e Profundidade do nosso Patrimônio Cultura, numa Revisitação a nossa Ancestralidade. Revitalização do nosso Arquivo Humano e Respeito a nos mesmos, enquanto negros e sergipanos na universalização de nossa Cultura Regional no âmbito de Panafricanismo Brasileiro. Basta de macaqueação e de imobilismo. Vamos descobrir a nossa Cultura na cristalização dos valores sergipanos que são nossos.
NOTAS SOBRE QUILOMBOS EM SERGIPE
Lourival Santana Santos*
INTRODUÇÃO
Segundo Antonil, os escravos são as mãos e os pés dos senhores de engenho, porque sem seria possível conservar e aumentar fazenda nem ter engenho corrente Essa frase de Antonil, explicita de forma notável a importância do trabalho escravo para a economia colonial. No Brasil –Colônia, praticamente, todo trabalho principalmente o agrícola, buscou-se na mão-de-obra escrava.
Após o resgate na África de forma violente vinham para trabalhar de sol a sol. Os castigos corporais eram, comuns, permitidos por Lei, ate pela própria Igreja. Esse comportamento verificou-se em todo o período da existência da escravidão do Brasil.
Em Sergipe os cativos eram provenientes, principalmente, das praças da Bahia. No ano de 1802 a população escrava na província antigia a casa de 19.434, em 1819 eram 26.213, subindo em l823 para 32.000 indivíduos, distribuídos em vários pontos da Província. Em l834 atingia a soma de 47.812. As vésperas da abolição a população negra atingia apenas l6.888. Esse declínio de deveu, alem da abolição do trafico negreiro, a exportação de escravos para o sul cafeeiro e as Leis abolicionistas.
Neste trabalho propomos a observar o desenvolvimento dos quilombos em Sergipe, considerando quilombo a formação de escravos prevista na resposta o rei de Portugal ao Conselho Ultramarino, de 02 de Dezembro de 1740.
“Toda habitação de negros fugidos que passem de cinco em parte despovoada, ainda que tenha ranchos levantados nem se achem pilões neles”.
Nossa tentativa de analise não ultrapassara o nível dissertativo, limitando-se a descrição das fugas e perseguições impostas pelas forças policiais, principalmente a partir da década de 1870.
A natureza desse trabalho, surgiu pó não existir em Sergipe nenhum trabalho que abordasse somente a questão dos quilombos, e sim realizam uma abordagem somente a questão dos quilombos e sim realizam uma abordagem geral sobre o negro. Naturalmente que o estudo sobre o negro em Sergipe não e uma questão inabordada. Trabalhos foram desenvolvidos por pesquisadores como, Luiz Mott, Ariosvaldo Figueiredo e as bacharelas Josefa Elina Souza e Josefa Perpetua de Carvalho Lima.
Entretanto, algumas questões impor-se-ão por força da própria natureza do estudo qual a tática de luta dos quilombos de Sergipe O que explica a fuga dos cativos. Por que essas fugas tornam-se mais freqüentes a partir da Lei do Ventre Livre.
Para elaboração desse trabalho, foi feito um levantamento de fontes primarias existentes no Arquivo Publico do Estado de Sergipe, instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. As principais fontes pesquisadas foram: relatórios do governo (Presidentes da Província) e os fundos G1 e SP1, referentes ao assunto.
GUERRILHA E PERSEGUIÇAO POLICIAL
Deste o Séculos XVII, TEMOS Noticias da existência de quilombos em Sergipe. Após a guerra contra os holandeses, os negros sem a rígida fiscalização no período da guerra, “abandonaram as fazendas e reúne-se em mocambos”.
Em decorrência das comunicações recebidas referentes a existência de quilombos na província do Governador Geral do Brasil, por ato de 222 de janeiro de 1662, ordenava que “todos os negros porventura aprisionados deviam ser trazidos para Salvador, salvo os que forem moradores da mesma capitania(Sergipe)”.
No ato é baixado nesse mesmo ano designado o capitão de campo, Francisco Rodrigues, para “liquidar quilombos de Sergipe”. Sem resultado concretos, novo decretos é baixado,desta vez dando prioridade ao capitão do campo Fernandes Madeira,para “destruir mocambos de negros fugidos que havia por aquelas bandas(Itabaiana)”.
No final da década de 1670, o capitão-mor, Fernão Carrilho, destrói mocambos na Província, antes de ser chamados para combater em Palmares. Os mocambos ou quilombos desse período foi uma resultante da guerra. Mas somente a partir do século XIX esses redutos negros começam a ser destacar, ou porque foram mais constantes, ou porque a documentação preservada permite a constatação de sua existência, surgindo em vários pontos da Província como: Laranjeiras, Capela, Japaratuba, Rosário, Divina Pastora,etc...
Em inícios do mês de abril 1848, corriam boatos de que os escravos de vários engenhos se organizavam para revolta geral a rebentar em vários pontos da província.Tenho conhecimento dessa revolta, o delegado de Socorro relata ao chefe da polícia:
“ Uma insurreição de escravos no dia 17 do corrente a cometer diferentes pontos dessa Província, e conhecendo as tristes conseqüências que se poderão seguir (...) do Governo exijo auxílio de 50 praças (...) e cartucharia que fosse possível afim de eu aqui possa fazer armar toda a guarda nacional”.
Da mesma forma, o delegado de Capela comunica que nos últimos dias tinha aparecido boato na vila, “anunciando a insurreição de escravos a população aterrada por faltar forças para repelir”.
De acordo com os comunicados dos delegados municipais, Os locais de reunião eram os engenhos Poxim, São Francisco e São Pedro. Os cativos tinham como ponto de apoio o engenho gameleira, do Capitão Jose Francisco De Meneses. Os revoltos seguiram o seguinte plano: invadiriam as vilas e, depois de matarem todos os brancos e atearem fogo nas casas passariam atacar os engenhos. Deveriam então seguir para a Serra De Itabaiana, onde ai preparariam a defesa.
Para a classe dominante, a rebelião era perigosa e devia ser combatida. A aliança com o Estado não se fez esperar. Assustado com as denúncias, o Presidente da Província deu ordens para que todos os delegados realizassem buscas e, apresassem os escravos nas senzalas dos engenhos onde fossem encontradas armas de qualquer tipo.
Em Itaporanga. O suplente de delegado Liberato Antonio da Costa Lobo, acompanhado de mais da metade da força de linha, sob o comando do alferes José Joaquim Pereira Mattos, dirigiram-se na madrugada do dia 13 de Abril para o engenho de Roma. Após o cerco, deram as buscas necessárias sem no entanto lograr êxito. Essa revolta abortou no seu nascimento.
Com o exposto acima o que pudemos observar foi que os insurretos nesse momento, já pretendiam se organizar em quilombos, na medida em que fugiriam para Serra de Itabaiana para preparar a defesa. Como essa revolta abortou, não constituíram focos de resistência. A partir da década de 1860, começa a desenvolver-se mais amplamente o quilombo em Sergipe, atingindo seu ponto culminante a partir da Lei do Ventre Livre.
No dia 18 de Dezembro de 1863, quilombolas de Rosário, localizados nas matas das Urubas, próximo ao termo de Santo Amaro, atacavam um escravo de nome Firmino. No dia seguinte tomaram uma carga de farinha de um feirante que vinha de Maruim, também foi atacado o cidadão Francisco José da Costa, perdendo no assalto uma porção de fazendas. O delegado de polícia de Santo Amaro, frente aos fatos ocorridos, comunica ao chefe de polícia que essa onda de assaltos tem amedrontado “ao povo especialmente dos sítios (...) tenho feito recomendações aos inspetores de quarteirão mas vejo que não tem eles suficiente força de armamento para prender esses negros (...) não sabe de que número é o quilombo e o lugar certo onde estão acoitados. Acho conveniente que se tome medidas enérgicas, fazendo-se dispêndio com espias e tendo força pronta para ataca-los”.
A característica marcante dos quilombolas de Sergipe, foi aa guerrilha. Os escravos faziam contínuos deslocamentos, atacando estradas e roubando produtos para garantia da sobrevivência.
Para conter a onda de violência, fez-se uma diligência, sem êxito. Os quilombolas, sempre informados pelos escravos dos engenhos sobre essas diligências, conseguiam burlar esforços das autoridades.
Em 28 de Setembro de 1871, a Lei do Ventre Livre, dava liberdade a todos os filhos de escravos nascidos a partir daquela data. A partir dessa Lei, observa-se em Sergipe mais tendência dos escravos aa fugirem e a se constituírem em quilombos. Interpretavam a Lei como se fosse uma lei abolicionista, abrangente a todos os cativos. Sentindo que ele não atendia a suas aspirações ou seja, a liberdade, as fugas dos engenhos tornam-se continuas em vários pontos da Província, o que levou o Presidente Luiz Soares D’Azevedo Maceió a declarar:
“Alguns dos escravos mal aconselhados, e influídos na falsa idéia de que se acham de todos livres do cativeiro pela Lei N° 2040 de Setembro, e que não gozam da sua liberdade, porque seus senhores a isso se opõem, se tem refugiado nas matas e reunidos em quilombos, saem de vez em quando dos seus esconderijos e pelas povoações e pelas estradas cometem roubo, espancam as vitimas de seus latrocínios, e já algumas mortes tem cometida. O susto e a desolação tem assaltado o povo, que vê em perigo a sua vida e a sua propriedade, e com instancia se pede ao governo, remédio para tão grande mal.
No final do ano de 1871, uma força de 30 praças comandados pelo alferes Mathias Jose dos Santos, deu num quilombo nas terras dos engenhos de Jardim e Coité, prendendo quatro escravos . Em Laranjeiras os quilombolas se refugiam nas matas dos engenhos Brejo e São Paulo. As pessoas das mediações por conta própria realizavam diligencia conseguindo prender dois escravos. Em Rosário, sob o comando do juiz Municipal, partiu um a força para desalojar negros fugidos, como resultado, um ferido e um morto, da parte dos quilombolas.
O chefe da policia da conta ao Presidente da Província;
“A comarca de Laranjeiras tem sido vitima de roubos e violência de um bando de salteadoras e escravos , tendo sido ultimamente vitima de grave ferimentos e roubos feitos no engenho Cafuz o cidadão Jose Bernardo (...) O terno de Rosário e igualmente por outro bando de salteadores e escravos fugidos”.
No dia 02 de Fevereiro de 1872, os habitantes de Patioba, termo de Japaratuba, cercaram uma casa para prender dois quilombos. Dobrado o cerco, a nova fuga dos escravos fez o jornal de Aracaju declarar na sua edição de 05 de Fevereiro;
“Continuam ousados os quilombolas a despeito das serias providencias que se tem tomado para extingui-los, convém redobrar os esforços nesse sentido”.
Seis dias depois do ocorrido, uma expedição partiu para dar combate a um grupo que agia no termo de Rosário. Sob o comando do chefe de policia acompanhando de 80 praças do guarda nacional, coadjuvado pro destacamentos de diversas localidades, estabeleceram o seguinte plano; uma parte da tropa daria batidas nas matas dos engenhos do lado de Rosário , onde se supunha estarem localizados os escravos fugidos, e o grosso da tropa ficaria na retaguarda da mata a espera dos escravos, pois os quilombolas ao serem atacados , ver-se-iam compelidos a fugir e ficarem então sob dois fogos. Com esse plano seguiu o tenente João Batista da Rocha , para dar uma batida nos engenhos Capim-Açu Várzea Grande e Jurema. Perseguidos os quilombolas deixaram grande quantidade de sebo, corda e alimentos . Cercadas as senzalas do engenho Capim-Açu, foram presos quatro escravos. Na mesma semana sob o comando do capitão Jose Esteves de Fretas foram cercadas as senzalas dos engenhos Limeira, Piedade e Quindonga. No dia 16 nova diligencia e feita no engenho Floresta.
No dia 23 de Abril, auxiliado por praças da Guarda Nacional, o delegado de Divina Pastora cercou as matas do engenho Batinga onde havia um quilombo de 11 negros.
Mas a diligencia fracassou. Cerco idêntico se deu no engenho Floresta no termo de Rosário, também sem resultados satisfatórios.
Ainda no mesmo mês, o juiz Municipal de Divina Pastora Manuel Caldas Barreto, realizou uma diligencia contra alguns negros aquilombados. Ao chegar a força no lugar em que os mesmos se achavam acampados, foram encontrados somente dois. Nova diligencia foi feita em agosto, no termo de japaratuba. Sabedores, os escravos se refugiaram nas senzalas dos engenhos circunvizinhos.
Convencidos cada vez mais de sua situação de explorados pela classe dominante, os escravos formavam quistos. Não ficaram somente restritos à formação de quilombos, procuraram alcançar a própria senzala, através de aliança, uma solidariedade perdurou a todo o período do desenvolvimento do quilombismo em Sergipe. Manifestou-se principalmente, em caso de perigo, quando uns protegiam os outros, escondendo-se nas senzalas. Em tempos normais, realizando intercambio comercial, trocando farinha e agasalhos pelos roubos praticados. No inverno escondiam-se nas senzalas.
Os quilombolas ameaçavam a segurança individual e da propriedade. No dia 30 de janeiro de 1873, foi realizada uma diligência em Rosário, nos engenhos Piripiri Novo e velho. A falta de praças suficientes não permitiu condições para captura de todos os fugitivos, sendo presos apenas três.
As causas apontadas pelo fracasso das diligência, eram os contatos entre os negros insurretos e os escravos das senzalas, e a incapacidade das forças municipais, no Maximo contando 15 praças. Os comandantes de destacamentos pediam, continuamente, reforço ao chefe de policia. Manuel Spinola Junior, tentando justificar o fracasso das diligências acusava também os senhores de engenho pois, “deixam que os escravos se acoitem em suas terras como também não impediam o relacionamento com os do engenho”
De todos os negros aquilombados, o mais famoso foi João Mulungu. Durante muito tempo deu trabalho às forças policiais. Nas perseguições realizadas para sua captura, destacou –se a figura do tenente João Batista da Rocha, “oficial sempre pronto para as diligências mais arriscadas que q policia empreendia, nas quais tem obtido bons resultados, capturando grande número de malfeitores”.
Na primavera de 1873, o tenente, partiu com cinco praças e mais seis do destacamento de Rosário, para capturar João Mulungu. Procedeu-se o cerco nas matas do engenho São José, onde se suspeitava a existência dos quilombos. No caminho encontraram uns escravos, que os guiou até o local onde os negros estavam arranchados. Encontraram 15 ranchos com 14 escravos. Apesar dos esforços empregados, foram capturados somente quatro, inclusive uma preta de 13 anos, que vivia em companhia de João Mulungu. Foram apresentados no rancho dois cavalos e algumas foices. Apesar da tentativa, João Mulungu conseguiu fugi. O motivo apontado pelo fracasso da tropa o pequeno número de praças.
Tendo notícias que João Mulungu encontrava-se residindo nas margens do rio Vaza-Barris, junto ao engenho Itapema, em Itaporanga, parte João Batista da Rocha em seu encalço. Mulungu não se encontrava no local.
No final do mês de setembro, o tenente João Batista da Rocha comunica ao presidente da província:
“Tenho conhecimento que se acha nas imediações de Rosário, o escravo João Mulungu, um dos poucos quilombolas que restam ser capturados e que é respeitado é o chefe mais terrível deles (...) mais oito ou dez escravos se acham em sua companhia”.
Outra diligência foi realizada. Novo Fracasso. Mais outra na vila de Japaratuba, também resultou em mais um fracasso, pelo auxílio que os quilombolas receberam dos escravos dos engenhos. Avisados, deixaram os ranchos e se refugiaram nas senzalas. Somente foram aprendidos inúmeros animais de montaria.
O Presidente da Província. Antonio dos Passos Miranda, comunica à Assembléia Legislativa Província, que ainda não se podia “extinguir os quilombos que de longa data são o terror de grande numero de proprietários, cuja fortuna e vida sofrem de constantes ameaças pelos assaltos que , de vez em quando, dão os escravos em diferentes termos. Muitas diligências se tem feitos e alguns resultados se há colhido, resta porem muito a fazer-se (...) asseguro-vos que não permanecerei inativo, nesse serviço, se bem que mais de uma dificuldade, existe contra os melhores desejos a respeito”.
Dois anos mais tarde, o Presidente João Ferreira de Araújo Pinho, destaca a Assembléia Legislativa Provincial, que a longos anos são os quilombolas “o terror da população do interior. Formando quilombos diferentes, percorrem engenhos que querem, penetram, algumas vezes disfarçados, nas cidades, roubam, fazem quanta violência entendem”.
Apesar da rede de espias que espias que possuía em todas as localidades, o mais terrível chefe dos quilombolas, João Mulungu, foi preso no dia 13 de janeiro de 1876, tendo conhecimento de que João Mulungu atacava em divina Pastora, o juiz municipal, Manoel Cardoso Vieira de Mello, ofereceu-se ao chefe da policia Vicente Caucaes Telles para dar-lhe combate ao tempo que também pediu uma expedição que fosse chefiada pelo tenente João Batista da Rocha. Depois de cinco noites e cinco dias sem descanso, o juiz Municipal e o tenente, com o auxilio do alferes Marcolino de Souza Franco e dos praças que o acompanharam,conseguiram apresa-lo. Considerado o terror da população, o povo aplaudiu sua prisão. Por onde a escolta passava. “era vitoriada pelo povo em massa”. No entanto Mulungu preferiu ser enforcado a voltar para o seu povo em massa”. Podemos considerar João mulungu como o Zumbi de Sergipe.
O movimento dos quilombolas não morreu com mulungu. Crescia sempre, sempre, e mais fugas se verificavam em várias partes da província. Atentados, principalmente contra senhores e feitores, registram-se com freqüência, No engenho Paty, em Itaporanga, 36 escravos assassinaram o feitor do engenho. Fato idêntico se deu em Riachão, assassinaram o feitor do engenho Grutão, por três escravos.
Até as vésperas da abolição, os quilombos foram constantes na história da escravidão em Sergipe.
No dia 20 de janeiro de 1887, o delegado de polícia de Divina Pastora informa ao chefe de policia José Ingnácio Fernandes de Barros, que vem recebendo queixas e reclamações de roubos, incêndios e depredações praticadas por “um quilombo de escravos que estão estacionados nas matas existentes entre os engenhos Salobro e Limeira, o qual quilombo além de roubos e incêndios praticados nas duas mencionadas propriedades, estendem suas façanhas pelos engenhos mais próximos, onde tem furtado gado vacum, animais cavalares e de criação miúda. A audácia tem chegado a tal ponto de atacarem lavadeiras e tomarem toda roupa (...) peço que remeta força regular sob um comando de num oficial”.
Da mesma forma, o delegado da capela comunica que a uns oito quilômetros da Vila, em direção ao Rosário do Catete, existiam “cerca de dez quilombolas que trazem a população alarmada com os seus furtos continuados e ultimamente até com ameaças a segurança individual”.
Em Maruim, os escravos invadiram o engenho mata, da propriedade de Juviniano Marcelino de Lemos e cometeram roubos incendiando seu canavial. No caminho da Vila de Capela, os viajantes sofriam ataques por parte de um quilombo ali existente.
No dia 13 de maio de 1888, foi assinada a lei no 3.353, a lei Áurea, declarando extinta a escravidão no Brasil, e com ela chegava ao fim a epopéia dos quilombos, não só em Sergipe como em todo país. Recebendo a comunicação da assinatura a lei abolicionista, o Presidente da Província, Olimpio N. Santos Vital, expediu comunicação a todos chefes de repartição pública em geral, a todas as autoridades da província recomendando-lhes a pronta execução da lei. A maior parte dos escravos ficou nas propriedades dos seus senhores.
CONCLUSÃO
Como podemos observar, a rebeldia surgia, como forma de reação à escravidão, ela aparece como elemento de contradição do sistema implantado na colônia. Socialmente isso conduzia à revolta permanente, pois, como pudemos ver, o grau de sofrimento chegava ao limite. Os movimentos dos escravos foram constantes, principalmente na medida que se procurava transforma-los em coisa. Assim a rebelião surgia e assumia várias formas: fugas, suicídios, assassinatos, passividade no trabalho, aborto, etc...
Em Sergipe, como nas demais partes do Brasil, o escravo se rebelou, fugiu dos engenhos e fazendas. Por isso os quilombos em Sergipe fora uma constante na sua história. Julgamos que a grande diferença entre a escravidão de outras regiões do país e em Sergipe, estar em não serem aqui os quilombos de grandes proporções e nem desenvolverem uma economia própria em seus redutos. Satisfaziam-se apenas em torno de roubos que praticavam em engenhos e em viajantes desavisados. Foi o que observamos através de vários ofícios enviados ao chefe de polícia pelos delegados municipais.
Impossibilitados de se enquadrarem na sociedade vigente, os escravos contestavam a estrutura, apesar de não haver entre eles uma consciência de classe social. Marginalizados dentro do sistema monocultor, maltratados e tratados como animais, para o escravo a fuga era uma alternativa, mesmo sabendo do risco que corriam. A revolta do negro e a sua contestação através dos quilombos também pode ser explicada pela recusa diante de uma condição estranha, que não permitia sequer uma identificação com o espaço físico. O negro era arrancado da sua família, dos seus valores, para sustentar uma sociedade que não o via como ser humano. A rebelião era definida ainda, pela necessidade individual de evadir-se da situação de escravo, onde a sobrevivência reduzia-se aos mínimos físicos.
A tática desenvolvidas pelos quilombolas de Sergipe não resta dúvida que foi uma guerrilha, jamais se empenharam em confrontos diretos com as forças do governo para o recesso das matas e lá, com movimentos rápidos, sempre levavam as tropas a fracassarem.
A explicação que encontramos para o aumento das fugas, a partir da lei do Ventre Livre, nos remete a abolição do tráfico de escravos, além das citadas anteriormente, isso porque com a extinção desse comércio, a população escrava da Província tendeu a diminuir, e o resultado foi a pressão sobre os escravos por parte dos senhores, afim de que se produzissem mais, resultando em fugas constantes.
Concluindo, podemos afirmar que em Sergipe, as relações entre senhores e escravos se caracterizaram tanto pelas violências dos primeiros, como dos segundos. Não foi um escravo, um testemunho mudo da nossa história.
PRINCIPAIS QUILOMBOS DE SERGIPE
MUNICÍPIO LOCALIDADE
Capela Caminho de Capela para Rosário
Divina Pastora Engenhos Batinga, Salobro e Limeira
Itaporanga Margens do Rio Vaza-barris, Engenho Itapema
Rosário Mata das Urubas (entre Rosário e Santo Amaro)
.” Engenhos Floresta, Várzea Grande,
.” Capim-Açu e Jurema
Laranjeiras Engenhos Brejo, São Paulo e Aroeira
Japaratuba Engenho São José
BIBLIOGRAFIA
01 - FONTES PRIMÁRIAS
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 121
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 316
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 490
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 564
- A.P.E.S. – SP1 - Pacotilha 579
- A.P.E.S. – G1 - Pacotilha 32
- A.P.E.S. – Relatórios dos Presidentes da Província à Assembléia Legislativa Provincial – Cx. 02 – 1872, 1874 e 1876.
- A.P.E.S. – Relatórios dos Presidentes da Província à Assembléia Legislativa Provincial – Cx. 03 – 1884
02 – JORNAIS
- Jornal de Aracaju – 1872
- Jornal de Sergipe – 1873
03 – FONTES SECUNDÁRIAS
ANTONIL, André João – Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas – São Paulo – Ed. Nacional – 1967.
CARDOSO, Ciro Flamarion S. e DRIGNOLI, Héctor Pérez – Os métodos da História – Tradução de João Maia – Rio de Janeiro – Edições Graal 1979.
COSTA, Emília Viotti da – O Escravo na grande Lavoura in: História Geral da Civilização Brasileira – Org. Sérgio Buarque de Holanda – São Paulo – Difusão Européia do livro – Vol. 3 – 1977.
FIGUEIREDO, Ariosvaldo – O Negro e a Violência do Branco: O Negro em Sergipe – Rio de Janeiro – J. Álvaro editor – 1977.
FREIRE, Felisberto – História de Sergipe – 2ª edição – Petrópolis – Vozes – 1977.
GOULART, José Alípio – Da fuga ao suicídio – Ed. Conquista – INL – Rio de Janeiro – Cátedra – INL – Brasília – 1972.
MATTOSO, Kátia de Queiroz – Ser Escravo no Brasil – São Paulo – Ed. Brasiliense – 1982.
MOURA, Clóvis – Os Quilombos e a rebelião Negra – Ed. Brasiliense – São Paulo – 1981.
- Rebelião da Senzala – São Paulo – Ed. Ciências Humanas – 3ª Edição – 1981.
MOTT, Luiz Roberto de Barros – População e economia: aspectos do Problema de mão de obra Escrava em Sergipe (Séc. 18 e 19) – in Revista do Instituto histórico e Geográfico de Sergipe – Nº. 28 – 1978 a 1982.
- Violência e repressão em Sergipe: Notícias Sobre as Revoltas de Escravos ( Séc. 19) in: mensário do Arquivo nacional – Nº. 125 – 1980 – Ano XI.
SOUZA, Josefina Eliana e LIMA , Josefa Perpetuo de carvalho – O Fundo de Emancipação de Escravos de Escravos em Sergipe (Aspectos Gerais) – Trabalho apresentado na Universidade Federal de Sergipe para obtenção do grau de Bacharelandos em História – 1983 – (mimeografado).
Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe.
Bacharelando em História pela Universidade Federal de Sergipe.
FUGAS: UMA ALTERNATIVA DE LIBERDADE DOS ESCRAVOS
Maria Nelly Santos
Durante muito tempo a historiografia brasileira produziu e reproduziu uma história da escravidão fundamentada na imagem do escravo dócil, passivo e submisso. Estudos recentes, indicando a descoberta de novas fontes e a reinquirição de outras, atestam como o escravo reagiu de diversas formas a escravidão que lhe foi imposta. A fuga, por exemplo,foi uma delas. Ocorreu em todas as partes e em todos os tempos como algo inerente ao sistema escravista. E tanto mais freqüente quanto maior rigor do cativeiro.
No Brasil, da colônia à abolição, os escravos sempre se utilizaram deste recurso porque “a evasão por mais simples e mais pronta execução era eleita como solução ideal, posto enganadora e fugaz”. Para Kátia Mattoso, a causa primeira e inspiradora maior, teria sido “a revolta interior do escravo inadaptado. O escravo (...) não escapa somente do seu senhor ou da labuta, elide os problemas de sua vida cotidiana, foge de um meio de vida, da falta de enraizamento no grupo de escravos e no conjunto da sociedade”.
Tentar ser livre, mesmo expondo-se a todos os riscos foi o sonho dos escravos José, Joaquim, João Mulungu e Hilário, presos na Província de Sergipe em entre 1871 e 1876. Nossa proposta não é unicamente biografá-los, e sim, analisar a trajetória da fuga, o momento crucial de capturas, o desenrolar do processo e suas conseqüências.
Chamamos atenção que esse trabalho é basicamente resultante das leituras dos autos de perguntas de processos-crimes. Se por lado, tem um caráter oficial, por outro, trata-se de um tipo de fonte, cujas características possibilita reconstruir a história do dominado a partir de depoimentos dos elementos dessa categoria. Por conseguinte; quem eram, como sobreviverem enquanto trânsfugas do sistema escravista, onde, como e quando foram capturados. O quadro a seguir, identifica-os preliminarmente.
Excetuando João Mulungu, que passou oito longos anos longe do domínio do seu senhor, os demais usufruíram um tempo efêmero de liberdade, variável de dois a seis meses. Independente dos percalços inseparáveis de toda fuga, sue sucesso estava condicionado aos fatores sorte, esperteza, audácia do escravo, solidariedade, proteção de terceiros e do grau de disposição do senhor de reavê-lo. Este, enviando todos os esforços, lançava mão de uma série de dispositivos como anúncios em jornais, recompensa, contratação de serviços de capitão do mato, etc. Em suma, entre o ato de fugir e o de sobreviver na clandestinidade, o escravo enfrentava condições extremamente adversas e desvantajosas. Por isso, não é estranhável que a maioria ass fugas tenha redundado em completo fracasso.
Afora as causas gerais, apontadas no início deste trabalho, quais especificamente, desencadearam a evasão dos quatro escravos?
Para José concorreu o fato de “tendo precisão de farinha, por ser muito pequena a ração que recebia, tirava nas roças do dito Isac um cesto de mandioca, e por tal haver descoberto, o mesmo Isac o castigou como poz-lhe um ferro no pescoço e que tais castigos foram a causa”.
O segundo, Joaquim, disse que o seu senhor, João Gonçalves Franco, “além de rigorosos castigos que já lhe tinha aplicado (...) prometeu dar-lhe novos, prendê-lo e mete-lo no tronco”.
Quanto ao depoimento de João Mulungu, apesar de longo, vale a pena transcrevê-lo porque os detalhes colocados deixam patente o excesso de severidade do seu proprietário João Pinheiro Mendonça, Confessou:
“(...) sendo ainda de pouca idade, seu senhor o sobrecarregava de trabalhos superiores as suas forças e castigando-o, às vezes sem razão, o fazia com rigor. Assim, saiu ele de casa por duas vezes a procurar senhor e sendo desenganado que o seu senhor não o vendia por este ter declarado a quem procurava comprá-lo. Deliberou-se pela terceira vez a fugir por não suportar mais a maneira que o seu senhor o tratava, já surrando-o, já trazendo-lhe ao pé uma corrente e sujeitando-o a pesados serviços como botar fogo na fornalha; e, efetivamente fugindo não mais procurou a quem o comprasse e sim, entranha-se pelos matos”.
Suas declarações dão conta que o senhor desconsiderando sua pouca idade, atribuía-lhe tarefas incompatíveis com a sua força física. Estabelecendo-se uma relação entre o ano de captura (1876) e a idade indicada no processo (25 ou 30 anos), deve ter nascido em 1851 ou 1846. Conforme afirmativa dele, nascera em Itabaiana e era filho de Maria, escrava de José Ignácio Prado, proprietário do engenho “Cundongá”. Admitindo ser 1868 o ano da fuga definitiva, teria na ocasião 17 ou 22 anos de idade. Logo, era muitíssimo jovem quando foi vendido a João Pinheiro de Mendonça, dono do engenho Mulungu, cujo nome, serviria para identifica-lo pelo transcurso de sua vida.
A revolta interior e o trabalho desumano estimularam-lhe a vontade de evadir-se. Duas vezes tentou, sem sucesso. O retorno, sempre mais doloroso e humilhante, aumentava-lhe a amargura e ódio que se tornaram companheiros inseparáveis.
Por último, o Hilário. Único a não alegar os motivos de seu ato. Isto não interfere na análise porque afinal, o desejo maior e manifesto em todo o escravo, sempre foi a busca incessante de liberdade.
Que temos então? Um escravo depauperado em seus cinqüenta anos, escapando aos rigores do castigo físico e das marcas indeléveis do ferro no pescoço. O motivo? Ter sido flagrado com um cesto de mandioca, tubérculo que transformado em farinha complementaria a pouca “ração” diária. E finalmente, a velha história tão comum e inseparável da escravidão: violência, excesso de trabalho e castigos intoleráveis. Castigos comprovadores de que os senhores, nos limites de suas propriedades, exerciam uma espécie de “justiça” da ordem legal estatal.
O número limitado dos exemplos desautoriza-nos formular conclusões. No mínimo, porém, nos induz sobre a necessidade urgente de aprofundar os estudos das relações entre senhores e escravos. No caso específico de Sergipe, as teses de Dom Marcos de Souza e de Felte Bezerra devem ser revistas.Aliás, Luis Mott refletindo sobre esse aspecto adverte: “Bem tratados ou não, (...) o certo é que volta e meia a escravatura estava se rebelando, chegando alguma vezes a constituir grave ameaça a tranqüilidade pública”.
Vai mais alem dizendo que a contestação da ordem estaminal assumiu em Sergipe.
“(...) no mais das vezes, a forma de rebeldia individual do tipo fuga, suicídio, assassinato de senhores ou de prepostos seus, incêndio de propriedade rural, envenenamento, etc.”
Apesar de sabermos da freqüência de tais fatos, é –nos impossível conhece-los em sua amplitude por que muito poucos foram estudados. No que se refere ás fugas, esta é a nossa convicção: nem todas culminaram em quilombos, mas, sem dúvida, todos eles mesmos, originaram-se daquelas.
Por exemplo, em 1868, quando João mulungu escapou definitivamente do domínio do seu senhor, fê-lo sozinho. Abandonou itabaiana e se deslocou para o termo de Capela. Posteriormente encontrando-se com José da Silva, escravo de Manuel Antonio de Morais, e Manuel da hora, pertencente ao cel. Gaspar de Melo, formou o primeiro “rancho’’ em terras do engenho boa vista . procedimento idêntico tiveram José maruim, em 1871, Joaquim,em 1872 e hilário em1876. o primeiro saiu do engenho cana brava para as matas do engenho são José ( Japaratuba) pois era sabedor da existência de um quilombo naquela área; o segundo terminou estacionando em outro nas cercanias do engenho Limeira ( Divina Pastora); enquanto que o terceiro, por sinal, preso juntamente com João Mulungu, dirigiu-se para o quilombo situado nas proximidades do engenho Jurema ( Rosário).
Em suma: todas as fugas aqui analisadas caracterizam-se por ações individuais.
O grupo de 1868 , instalado na Boa Vista, permaneceu por um espaço de dois meses no termo de Capela. Para matar a fome e sobreviver a toda odisséia, praticava furtos, roubos, etc. suas ações rápidas e eficientes, provocou inquietação entre os proprietários do local. Sentindo-se inseguros, Mulungu e seus dois companheiros transferiam-se para as terras do engenho Sombinho, em Divina Pastora. Nascia assim o segundo “rancho”. Este cantou com quatro pessoas em face da chegada de frutuoso, escravo do Major Frederico do engenho Campinhos.
O que teria concorrido para o sucesso da fuga de João Mulungu? E mais, por que foi tão longa? Desconhecemos os anúncios publicados e outras medidas para capturá-lo. Mais é difícil imaginar acredita-lo inerte diante de uma “peça” tão valiosa!... Peça em pleno vigor físico, extremamente necessária, não só porque apta qualquer serviço, mas principalmente inflacionada devido a vigência do trafico interprovincial.
Inferimos: O êxito, se assim pudemos rotular, não se deveu exclusivamente a sua astúcia, a sua coragem e sua inteligência. Ou apenas as táticas de guerrilhas bem empregadas. Valeu-lhe a proteção de terceiros. Indagados sobre o apoio recebido, respondeu dessa maneira, ao chefe de policia Vicente de Paula caucaes: “ a única proteção com que ele e seus companheiros contaram, foi a de dois moços do termo de capela, do lugar lagoa funda , chamado um Teixeirinha (...) e outro conhecido por Yoyô, cunhado de Teixeirinha, os quais compram- lhe alguma coisa que ele necessitava, adiantando-lhe dinheiro até que lhes pudesse pagar e de uma vez levou-lhes(...) quatro bois para yoyô que os vende por quarenta mil reis e dois cavalos e uma burra para Teixeirinha que (...) os vende por sessenta mil reis”.
Independente do interesse comercial tão explicito, o apoio fundiu-lhe confiança e renovou suas energias para manter-se livre; especialmente durante os primeiros meses que perambulando a esmo estava exposto a toda sorte de pressões e adversidades.
As noticias corriam, espalhando-se tão rápidas quanto as ações do seu grupo. Os proprietários das vilas de capela, siriri e divina pastora já não eram os únicos intranqüilos. Por isso, do rancho nas terras do engenho sombinho deslocou-se, sucessivamente, para as matas do engenho batinga e limeira. A causa da mudança do terceiro para o quarto ocorreu em virtude da captura do quilombo Frutuoso e Malaquias, acusados do assassinato de João Croato da costa.
Segundo declarações do próprio Mulungu “depois desses acontecimentos teve que procurar outro coito(...) estabelecido nas matas do engenho limeira o qual continha vinte companheiros”(grifo nosso) inclusive uma mulher livre de nome conceição de
Surpreende-nos que agora nas matas do engenho limeira hajam vinte escravos quilombos. Até então, o número de pessoas não passava de quatro. Nossa hipótese salva melhor juízo, é de que houve uma integração do grupo de João Mulungu ao já existente.
Naturalmente, Mulungu não enfrentou dificuldades para associar-se porque a fama adquirida ao longo de três anos sem dúvida lhe serviu como passaporte.
Tudo faz crer que a permanência de Mulungu e dos outros vinte cativos nas matas do engenho Limeira não foi duradoura. Depreendemos do depoimento de Joaquim ao confessar “que ele já tinha combinado mudarem-se para as matas Pingui porque a tropa os está atormentando muito”.
Na realidade está idéia não foi concretizada, visto que do rancho de Limeira, deslocaram-se, em 1872, para as matas do Engenho Jurema, situado no termo de Rosário. Eis assim a origem do quinto rancho.
Entre o espaço compreendido daquela data ao ano de 1876 a documentação é silenciosa quanto a trajetória e dele e de seus companheiros.Interrogado sobre os furtos cometidos a, na maioria dos engenhos da zona do Cotinguiba, respondeu que os objetos furtados contam em gado, cavalos, ovelha, etc. Além de descriminar os locais assaltados citou, nominalmente, todos os escravos que o acompanhavam, ressaltando porém, que a grande maioria foi recapturada e devolvida aos antigos senhores e sua prisão foi efetuada pelo tenente João Batista da Rocha e o Juiz Municipal de Divina Pastora, Manuel Cardoso Vieira de Melo.
De Janeiro a Setembro do ano citado, João Mulungu foi submetido a vários interrogatórios nas vilas de Divina Pastora, Rosário, capela e na cidade de Aracaju. A exceção de Rosário, onde foi condenado em 12 de abril, a um ano de galé, 70 açoites e a tomar ferro ao pescoço por espaço de um mês, desconhecemos os demais processos condenatórios referentes aquelas localidades.
Diante do exposto levantamos estas questões. Mulungu realmente preferiu ser enforcado para não viver em cativeiro? Teria sido apenas condenado as galés e sua comutada para decapitação?
Nossa comunidade propositadamente questionava e não conclusiva. Razão porque fazemos estas indignações extraídas dos próprios autos de perguntas trabalhados.
a)Que tipo de quilombo tivemos em Sergipe?
b)Seriam predatórios em razão dos quilombolas viveram constantemente assaltando engenhos, fazendas e sítios?
c)As façanhas de João Mulungu poderiam diferencia-lo dos outros escravos quilombolas a ponto de torna-lo um líder na luta pela liberdade de seus irmãos?
d)Qual a diferença entre quilombos, ranchos e coitos, expressões usualmente mencionadas nos processos pelos escravos depoentes?
Tudo isso nos leva a crer que os escravos, em Sergipe, não foram coniventes com sua situação servil, usou de todas as maneiras de revolta, apesar de estruturarem de seus atos uma luta maior pela liberdade.
ANEXO 01
Segundo recenseamento feito do depoimento dos quatro escravos, os companheiros de Mulungu entre 1868 até 1876, foram:
ESCRAVOS PROPRIETÁRIO ENGENHO
01 - José da Silva Manoel Antônio de Morais -
02 - Manoel da Hora Cel. Manoel Gaspar de Melo Velho
03 - Frutuoso Major Frederico Campinhos
04 - Cornélio Cel. Antônio Brejo
05 - Maximiniano José Nobre -
06 - Laureano - Junco
07 - Jacinto João Bernardino -
08 - Victorio - Palma
09 - Alexandre - Lagoa Funda
10 - Cupertino - Junco
11 - José Maruim Isac Cana Brava
12 - Leonilo - Flor da Rosa
13 - Horácio - Bete
14 - José Quinzanga - Quinzanga
15 - Benedito - Palha
16 - Luís da Imbira - Brejo
17 - Barnabé - Oito Contos
18 - Belmínia - Cana Brava
19 - Francisca Guilherme de Tal -
20 - Thomasia - Santa Bárbara
21 - Luzia - Jurema
22 - Joaquina - Santa Bárbara
23 - Sinforósia - Serra Negra
24 - Vicencia Antônio Diniz -
25 - Conceição (livre) Divina Pastora -
26 - Joaquim João Gonçalves Franco -
27 - Antônio Teles - Farias
28 - Coutinho - Sítio
29 - Leonídio - Palmeira
30 - Mathias (missão de Japaratuba) - -
31 - Carlota - Santa Bárbara
32 - Francisco da Vila de Capela (livre) - -
33 - Hilário Manoel Raimundo Sítio Novo
OUTROS MULUNGUS, OUTROS MITOS?
Maria Nely Santos
A despeito do volume das fontes, a historiografia sergipana da escravidão, apresenta-se muito limitada porque poucos estudiosos lhe emprestaram a devida importância. Tal procedimento tem contribuído para que generalizações apressadas, equívocas e controvérsias se estabeleçam como verdades absolutas.
Por exemplo, quando se discute a reação dos escravos ao sistema e aos mecanismos de controle social exercido sobre eles, associa-se automaticamente a palavra “quilombo”. E falar em quilombo é lembrar, obrigatoriamente, JOÃO MULUNGU, transformado e reproduzido para várias gerações no “super estrela” da resistência escrava em Sergipe.
Sem dúvida, na década de 70 do século XIX, foi das figuras mais populares entre os escravos, um dos personagens temidos dos senhores proprietários rurais e dos mais experientes desafiadores dos cercos policiais. Mas, daí, torná-lo único, impar e sobretudo tributar-lhe o titulo de líder do Herói Negro Sergipano, é procedimento no mínimo reducionista.
É preciso dizer que a historia da resistência negra em Sergipe, não foi encerrada quando o tenente João Batista da Rocha Banha prendeu João Mulungu, no dia 19 de Janeiro de 1876, no canavial do engenho Flor da Roda, em Laranjeiras. Apesar de sua captura ter significado o epílogo de uma trajetória de figuras audaciosas e espetaculares, enfim o termino de oito longos anos de vida clandestina, de 1876 ate o ano de 1888, outros “MULUNGUS” existiriam merecendo cuidadosas pesquisas e analises.
Na verdade, este artigo trata da temática, RESISTENCIA E PROTESTO cujo objetivo é passar em revista alguns autores como LAUREANO, FRUTUOSO, DIONÍZIO e SATURNINO, cujas historias permanecem ainda empacotadas no Arquivo Público do Estado de Sergipe e no Arquivo Judiciário.
Salvo melhor o juízo, a documentação relacionada ao combate, destruição de quilombos, captura de escravos, assinala o ano de 1876 como aquele em que o alferes, depois tenente e finalmente capitão João Batista da Rocha Banha, surgiram na cena de toda as diligência nas matas dos engenhos de Divina Pastora, Laranjeiras, Maruim, Rosário, Siriri e Capela.
Desse modo, seis meses depois, vamos encontrá-lo em ação. Desta feita no Engenho Aroeira, efetuando a prisão de LAUREANO, escravo do Cel. Antônio de Siqueira Horta, que se achava foragido a mais de oito anos do Engenho Junco. Inclusive, nesse espaço de tempo, tornou-se um dos companheiros permanentes e próximos de João Mulungu, cometendo vários delitos, embora não lhe pesasse qualquer acusação de crime de morte, conforme indica o oficio de 12/06/1876 do mesmo capitão ao então chefe de policia Vicente Caucaes Teles e que aliás, chega a mencionar uma estratégia que deveria ser freqüentemente praticada pelas autoridades, ou seja, a utilização do ex-quilombolas como guia das expedições repressivas e preadoras de cativos, como bem ilustra a citação abaixo:
“...Peço permissão a Vossa Senhora para utilizar-me hoje à noite dos serviços dos mesmo escravo para servir-me de guia até dois ranchos consta estarem mais alguns quilombolas” (APES, SP1:378).
Após lutar vários anos para preservar sua liberdade, termina sendo irônico o final da história de Laureano. Somente o exame de outras fontes poderá de fato confirma-lo.
O segundo personagem em análise é frutuoso, evadido desde 1869, do engenho campinhos, de propriedade do capitão Frederico.Integrou-se ao grupo de José da Silva, Manoel da hora e João Mulungu, quando estes já haviam estabelecido um rancho nas terras do engenho sobrinho, proximidades do pé do banco (atual município de Siriri).Recapturado em 1879, fugiu da cadeia da capital em 11 de setembro de 1880, homiziando-se num quilombo nas matas dos engenhos Poxim e Tábua, distante cinco léguas da cidade de Aracaju. Frutuoso foi constantemente perseguindo, apesar do senhor não ter “se importado porque o galé não lhe mal e sim aos outros”.
Se o Capitão Frederico o deixara em paz, o mesmo não se pode dizer da polícia. Duas expedições foram organizadas em 1883. A primeira, composta de vinte praças sob o comando do tenente José Sabino de Brito, dirigiu-se ao quilombo dos engenhos Poxim e Tábua, redundando em completo fracasso. Conseguindo furar o seco, frutuoso se estabelece nas cercanias do engenho Pauá no termo de Capela.
Em 11 de julho do mesmo ano, o tenente comandante daquela vila, Francisco D’Alcântara, notificava ao chefe de polícia:
“Segundo estou informado por paisano, a quem incumbi de espreguiçar a frutuoso,prometendo-lhe eu, ele ter uma gratificação se descobrisse, o que prontamente fez descobrindo o arranchamento em uma mata; porém, que(...) mediante a gratificação de quarenta mil reis visto ser pessoa pobre, e em tal diligência corria muito risco de sua vida (...)estão em um lugar porém separados em três ou quatro ranchos que devem ser cercados em um só tempo.
Estão foragidos, estão bem armados” (APES,SP1:548).
Finaliza solicitando quinze praças e inclusive, consultando sobre a possibilidade de “fazer fogo no galé”. Captura-lo vivo ou morto tornou um ponto de honra das autoridades.
Infelizmente a documentação analisada não possibilitou o conhecimento dos resultados desta diligência e conseqüentemente o destino de frutuoso, que diga-se de passagem, conseguira a incrível façanha de sobreviver por mais quinze, em liberdade.
Quem se der ao trabalho de recensear os escravos fujões de 1881, terá em mãos uma lista relativamente extensa. Arrisco-me a conjetura que a maioria reavida e tal aconteceu, deveu-se muitos mais a iniciativa dos próprios senhores naturalmente inconformados por perderem sua força de trabalho, do que a própria polícia. Obviamente jamais dispensaram o aparato policial. Entretanto, à medida que as fontes são inquiridas, deixam-nos a impressão de que a concentração de esforços e o maior interesse da polícia, estavam direcionados para os escravos líderes e/ou os já pronunciados pela justiça.
Por exemplo, 1886, o chefe de polícia João Batista Costa Carvalho, fez circular um memorando por várias vilas da província, especialmente Divina Pastora, Riachuelo, Laranjeiras, Maruim e Capela, recomendando capturar o escravo Dionízio que se “acha à frente de uma quadrilha de salteadores atacando as propriedades agrícolas. O assassino é mulato, magro, baixo,tem cabelos anelados e preto, barba pouca somente embaixo do queixo, fala às vezes fanhoso, ombros bem suspensos, pés e mãos regulas, idade 30 a40 anos e uma pequena cicatriz de talho por cima de um dos olhos”(APES,SP1:5480).
Este Dionízio tão detalhadamente descrito escapara do engenho Cumbe de propriedade de Pedro dias Dantas de Melo e era acusado justamente com Saturnino de haver assassinado o escravo Canuto em 30 de dezembro de 1885. Saturnino é o último personagem abordado neste arquivo e para melhor compreende-lo, é necessário relatar fatos que se seguem.
No dia 21 de abril 1888, dois escravos foragidos foram presos e recolhidos à cadeia da Vila de Laranjeiras.As prisões acompanhadas de espancamento provocaram protestos veemente da população, do diretório do partido liberal além de uma ampla reportagem no jornal “A REFORMA”. Diante da repercussão, o então presidente da província, senhor Lycurgo de Albuquerque Nascimento determinou que tomasse as devidas províncias. Para uma melhor compreensão do fato, reproduzo abaixo trechos do relatório do chefe de polícia, por traduzirem o estado de espírito da província às vésperas da abolição: em Laranjeiras, no ano de 1851 (presumível), escravos de propriedade de João Pinheiro de Fraga, dono de Engenho Flor da Roda.
João Mulungu, amplamente citado por diversos historiadores, inclusive pelo brasileiro Robert Conrad, como o mais importante defensor da causa negra na contra a escravidão, alem de outras citações , a cognominação Zumbi Sergipano.
Dentre os companheiros de João Mulungu, no ato da revolução escrava em Sergipe, destaca-se; Manoel Jurema, Pedro Quirino, Galdino, dentre outros.
Acredita-se que desde os anos 60 que João Mulungu fazia parte dos grupos revolucionários, tendo em vista que Laranjeira era tida como o berço das idéias progressista e revolucionarias de Sergipe, palco, portanto, da difusão de depoimentos humanista e de ação liberais como a pratica de Sergipe, proveniente de diversas tribos e nações i nações, combinadas com as pressões internas a favor do abolicionismo, no apartheid imposto pela igreja através das irmandades.
O quilombo predatório ou de estrada, como de estratégia externa dos antigos quilombos africanos, foi o instrumento mais utilizado por João Mulungu, pois a intinerancia se via contra os batalhões da policia em perseguição constante.A tônica libertaria como objetivo meta, propiciou em diversos levantes, liberdade através das fugas e milhares de escravos, alem de fortalecer contingente em todos os municípios e Sergipe,como ponto de abrigo e apoio estratégicos.
Ao longo de sua trajetória, a frente da revolução escrava, sua liderança foi sempre contestada pelo sistema e pelo poder, que sempre se esmeraram para tê-la como troféu, na batalha de manutenção do poder.
Suas técnicas, amplamente identificadas e utilizadas pelo sistema, contra opositores e após a execução dos atos, declinavam a autoria de João Mulungu, foi assim por muito tempo que o governo provincial, deu combate aos seus opositores políticos.
Por traição de um dos escravos da Flor Roda, de nome Severino, João Mulungu foi capturado, coincidentemente, nas terras do engenho em que nasceu e evadiu-se, quando descansava com seus companheiros a sombra dos bananais, as 12:00hs. Do dia 19 de Janeiro, em Laranjeiras e imediatamente conduzido ao Quartel de Divina Pastora sob a guarda do capitão João Batista da Rocha Banha, comandante da diligencia.
No afã de notoriedade e na pressa de divulgar o ato e sobressair no cenário nacional, o governo provincial dava dimensão ao caso em seus Relatórios e Assembléia Provincial, de 01 de janeiro, fevereiro e março, chegando a afirmar em relatório de março que... Pode ter 25 anos, mais ou menos, é crioulo de estatura regular, e como bem o qualificam “um pouco ladino e insinuante, resignado hoje com a sua sorte, preferindo contudo ser enforcado em praça publica a voltar para a casa do seu senhor”.
Em outro documento próprio governo afirma que João Mulungu...”o mais forte elemento da resistência, o quilombola João Mulungu, e todos dizem ser o mais audaz, o chefe dos escravos fugidos, foi capturado no dia 13 de Janeiro do corrente...”
Efetivamente o presidente da província, João Ferreira de Araújo Pinho, iniciou toda uma manipulação em torno do nome de João Mulungu, divulgando sua morte, quando na verdade desde 1835 não poderiam mais enforcar escravos no Brasil e diversos documentos, mesmos confusos, demonstravam que ate dezembro, João Mulungu estava vivo sendo transferido de cadeia em cadeia, inclusive condenado a um ano de galé, enquanto seu companheiro Manoel jurema era condenado a uma pena máxima, efetivamente, João Mulungu, foi uma presa preciosa nas mãos do governo que querendo mostrar serviço, declara extinto os quilombos em Sergipe, com a prisão e morte de João Mulungu, o que na pratica só fez retroceder a ação tendo em vista as manifestações isoladas de diversos grupos em toda província ate o alvorecer de maio de 1888.
A prisão de João Mulungu e seu confinamento histórico, só serviu de instrumento para promoções das autoridades que serviam o sistema e tinham no maceramento do negro sua meta de vida. A luta do negro Sergipe, na busca da liberdade e contra a escravidão, foi uma das mais tenaz e feroz do Brasil como também feroz foi a escravidão, onde os delírios dos senhores, tornavam a escravidão, ou seja, os escravos passiveis de qualquer penalidade, pela violência praticada Paradoxalmente diversos senhores de engenho, davam guaridas aos quilombolas alem de praticarem abertamente o trafico interprovincial de escravos reclamados pela justiça.
João Mulungu, marco da resistência negra em Sergipe, simboliza as aspirações democráticas dos sergipano, independente da raça e/ou posição econômica.Herói Negro Sergipano, cristalizando os anseios da liberdade do povo brasileiro em todos os momentos em que a opressão determina a ação e o comportamento dos homens. Lutou, não pela liberdade de seu povo, seu nome em Laranjeiras em Sergipe e no Brasil deve ser tão respeitado e reverenciado como tantos outros Heróis que deram sua vida pela liberdade de sua gente, dentre eles:
Zumbi Lucas Dantas Manoel Balaio
Chico Rey Ambrosio Isidoro
João Candido Manoel Congo Luiz Mahim
Zeferina Pedro Cosme etc.....
JOÃO MULUNGU
ARIOSVALDO FIGUERÊDO
Na caçada que por muito tempo cobriu Sergipe, destaca-se o Alferes e; depois Tenente e Capitão João Batista da Rocha Banha, o mais eficiente e agressivo caçador de escravos, “oficial sempre pronto para as diligências mais arriscadas que a policia empreende”.
Em 13/01/1876 ele escreve ao Chefe de Policia Vicente Paula Caçais Telles: “Comunico a V. Sa. Que no dia 11 do corrente, pelas 10 da noite, foram atacados neste termo, os Cidadãos Luiz Maynart e Joviano de tal, pelos quilômbolas que se acham circulando neste Termo, e logo veio ao mês conhecimento e segui imediatamente a socorrê-los, não encontrei mais os quilombolas, visto ser de grande distância desta vila, tendo ali encontrado grande roubo feito por eles em objetos e muitas criações daquele senhor, dos quais levaram um carneiro pela corda que o dito carneiro foi que serviu de guia tomando-se o rasto pelo caminho. Consta-me que o regente desses malfeitores é o célebre quilômbola João Mulungu, e seu imediato Manuel Jurema. Hoje chegou ao meu conhecimento que aquele malfeito está preparando-se com muitos quilômbolas para invadirem esta vila prometendo vir até o quartel com seus companheiros atacarem a força prevenido 2 quilômbolas com 15 escravos para esse fim, mais não se pôde ainda capturar aquele malfeitor porque todo movimento que se dá na vila, ele no mato é sabedor, visto ter sócios nesta vila que se prestam a avisarem a ele”.
O militar fala em roubo de objetos e criações, porém não os descrimina, salvo um pobre carneiro levado, certamente, para alimentar os escravos. Fala, igualmente, em um ataque a vila, que obviamente não se realizou, o que mostra que ele carregava nas tintas para impressionar o chefe de Policia. O que há de verdadeiro em seu depoimento é o fato dos escravos contarem com informantes solitários nos lugares onde viviam. Isso era, aliás, muito comum em todas as épocas e partes da Província.
João Batista da Rocha Banha volta, logo depois, à presença do chefe de policia, com nova carta, ao saber que um proprietário fora agredido em Divina Pastora, “pela audaz chefe dos quilombolas João Mulungu e alguns dos seus acérrimos companheiros que fazem parte dos grandes coitos que infestam as matas do Cotinguiba e Japaratuba”. Ele, escrevendo em 14/01/1876, lastima “que em minha província ainda se dêem fatos tão desagradáveis quando podem ser eles abatidos com um pequeno esforço da Policia”. João Batista da Rocha Banha oferece-se, ma oportunidade, para “abatê-los e extingui-los em poucos meses”.
___________________________________________
-Relatório do Presidente João Ferreira de Araújo Pinto
à Assembléia Legislativa Provincial, 1°/3/1875.
-Arquivo Público do Estado de Sergipe.
SAGA DE JOÃO MULUNGU
É Esta a historia historiada
De um negro Sergipano
Que em plena escravidão
Lutou nos quilombos
Para a Libertação
Sergipe Del Rey
Sergipe.Aracaju
Santo Antonio do Aracaju
Ogum
Sua Padroeira
Nossa senhora da conceição
Oshum. Saravá
Ogum Deus da Guerra
Das batalhas, Orixás
Da agricultura
Protetor dos oprimidos
Oshalá
Ogum senhor do Quilombo
Protetor dos quilombos
Xangô Deus da Justiça
1851ele nasceu
De mãe negra escrava
nas senzalas do Cotinguiba e do
brinquedo do amor
Seu nome JOÃO MULUNGU
Negro puro e forte
Não aceitou o nome
O nome do seu senhor
Mamou o leite que
banco amansou, sua mãe
mãe negra forte, lhe
reservava mais amor
João cresceu entre a
Senzala e a Casa Grande
Da cozinha pro canavial
Até aprender o um oficio
Por certo era a capina
Ou pedreiro
Negro ladino esperto e guerreiro
João era escravo de ganho
Escravo de profissão
Saía e ouvia
Ouvia e aprendia
Sabia tudo o que acontecia
João Mulungu cresceu
Sabendo a palavra quilombo
Sua fúria
Seu significado
Sua importância seu grito
De morte
Vivendo no quilombo
Para ele era ver África –Mãe
Que suas historias ouvia
Todas as noites na senzala
Pra ouvir estrelas e sentir
Java ,a guerra e batalhas
da tribo dos seus avós
O engenho, o bangüê, o açúcar
O mel, para João
Tinha gosto de morte
de saudade
Gosto de pura necessidade
Um dia João chorou
Sua mãe de peito aberto
Pelo chão se contorcia
Uma chibata do senhor
No castigo do feitor
O sangue a terra bebia.
João via que ele morria
Seu corpo rijo vingança pedia
Jurou em silencio e andou
Para a fuga, a vitória dos
Quilombos, a liberdade do chão
Clamou vingança
Exu nas estradas cobertas de cana
Rio estridente, pedindo sangue
a João. Ogum lhe mostrou os
caminhos do quilombo na ventania
de Yansã e para lê ele rumou
levando consigo a imagem
o pensamento, a coragem.
Despiu suas roupas num rio
de mudanças.
Despiu sua sombra; esperança
Despiu seu espírito: liberdade
e foi a luta contra o opressor
De sua mãe
Seu povo, raça
Sua Ancestralidade
Logo cedo já tinha
Sua tropa, seus camaradas
Companheiros de luta
Contra a opressão
Contra discriminação
Contra a escravidão
Por motivos diversos
Mas lutando contra o terror.
Nas estradas
Nos engenhos e senzalas
Tinha sua arma de guerra
Tudo que via, pegava
E assim se mantinha
E assim se provia
Andou com anda
Na África, o guerreiro
Nômade em busca de batalhas
e conhecimento
E nisso João dava batalha
Ao inimigo com conhecimento,
Pois sabia do opressor
E logo começou a organizar
Seus camaradas, as batalhas
Os quilombos e quilombos
Onde passava, sempre ganhava
Informantes e tudo sabia
Os inimigos não lhe vencia.
Andou em Laranjeiras
Santo Amaro - Maruim
Itaporanga - Capela - Japaratuba
Atacava de dia e de noite
Ensinava por onde passava
A comunidade crescia
Era líder, herói e chefe
Dos quilombos e cativos
O terror dos senhores
Seu nome seus feitos
Logo se espalhou
Até os Henriques foram
Chamados para batalha lhe dar
O som do poder
de repressão, já estava sendo
Interrompido pelo nome de Mulungu.
Sergipe Del Rey, se interrompia
Na luta pela liberdade dos escravos
E lutava para reprimir
Era o poder que se debatia
A economia da cana e do algodão
Que caia, os quilombos que se
multiplicavam.
João Mulungu
Era tido o terror do Sistema
Ameaçava com sua luta
A oligarquia o poder os poderosos
Com receio dos levantes
Que se aproximavam com o descontentamento urbanos.
O Presidente da Província
Os chefes de polícia
Os senhores de engenho
Os comerciantes
Os políticos que se desesperavam
Pelas inúmeras façanhas de
João Mulungu e bradavam
Tropas foram
Tropas voltam
Sem o João como presa.
João Mulungu passou por
Nossa Senhora das Dores
Divina Pastora e diversos quilombos
Organizou.
Muitos senhores lhe davam cobertura
em troca proteção nos engenhos e
nas estradas.
João Mulungu era Herói
Era assombração
Em parafuso, era visto e não visto
a polícia tinha respeito
ódio e devoração.
Pé branco, Socorro
Santa Rosa, Itabaiana
Brejão lhe teve por muitas vezes
Em auxílio ao Rey Menino
Porte régio, liderança.
Muitas famílias ajudaram
Na fuga do cativeiro, morto livre.
Muitas honras lavaram com sangue
Na cobrança dos opressores
Do seu povo.
Era querido e odiado por todos
O seu povo.
Em noite fria, tempo chuvoso.
Ouvia forte o relâmpago
No aviso de Shangô
Acordado ouviu
Acordado sonhou
E sonhando lutou
Lutou em África
Batalha feroz, muito sangue.
Muitas vidas.
E lutando tombou sem ferimentos
Inerte ouviu estrelas
Cantar
Exu rindo falou e fugiu
Seu corpo enrijeceu
E gritando pulou
O vento forte soprou em outra direção
E em vez de trovão os tiros eclodirão
E gritos enraivecidos, confusos.
Tomaram conta da noite silenciosa
Divina Pastora foi ao palco
Mulungu e seus companheiros
Os protagonistas da sinistra ação
A artilharia das tropas policiais
Os antagonistas do ato final em
Tragédia, em chão de perdição.
Seus companheiros feriados
Iam caindo na súbita investida.
Cinco dias e cinco noites
Um após um outro tombava
Para não mais se erguer
Muitas baixas e reforços
De toda força policial
Zumbi em Palmares
Também chorou
Na alegria da vitória
De cada inimigo que caia.
Sem munição e exausto
O cerco foi apertado
E só ele restou
Amarrado como um fardo
Mais seu porte sempre erguido
Tez sombria
Rosto calmo
Vencido, vencedor.
Arrastado para
Santo Antônio de Aracaju
Como troféu foi trazido
Muita gente se alegrou
Pois o tinha como bandido
Nas Câmaras e Assembléias
Antecâmaras e Palácios
Discursos eram proferidos
E festas: o pesadelo terminou
Nas senzalas e quilombos
As iras frustrações contidas
Nas salas das casas grandes
A euforia da vitória
E o poder mantido
Dia e noite João Mulungu
Foi exposto na cadeia
Publica como troféu de guerra.
Símbolo de força e poder
Para todos que sentissem
E vissem o exemplo da repressão
O povo via ouvia e nada dizia
Uns aplaudiam, outros com medo corriam.
No dia do julgamento
João Mulungu foi levado
A presença do Juiz e grande júri
A ordem era desmoralização publica
O líder quilombola, no perdão pelo.
Seu crime e devolução ao cativeiro
Onde seria manietado pelo seu senhor
O símbolo de luta pela liberdade
Seria o símbolo da derrota e de
Força para o poder
João Mulungu reagiu
E a todos frustrou
Deu a seu povo dignidade
De luta e para a luta
O perdão não aceitou, preferira.
A morte do patíbulo
A ter de voltar a tragédia do cativeiro.
Foi proferida a sentença
Enforcamento em praça pública
João Mulungu riu
E como um rei sutilmente agradeceu
Poucos entenderam, ele disse.
Com seu corpo, expressão.
Seu olhar e riso:
“Nunca tive a vida como contemplação de mim.
Meu povo é minha vida.
E ela se multiplica
Onde haja um negro
Aí eu estou...”a luta continua...
E continuou
Os ensinamentos e exemplos
De João Mulungu se alastraram
E perduraram até a chamada abolição
Jurídica dos cativos.
Sergipe Del Rey se apressou logo
A cumprir o decreto a fim de se
Ver livre da tragédia que se alastrava.
A Tróia Negra dos Filhos da África,
Sedentos de liberdade.
Negros que construíram o
Brasil e edificou Sergipe Del Rey.
Após a dita abolição
Uma apatia atroz
O negro marginalizado sem condições
De competir calou.
Sua Cultura – Sua luta – Sua força – E expressão – hibernou sua
África.
Sem a raiz árvore
E o negro tombou
O trovão roncara novamente
Pois relâmpago já se dá
E João Mulungu se projetará
Como já dizia o poeta “Ser Negro
é não ser somente Negro
E sentir milhões de Negros
Com a força de Oxalá”.
João Mulungu
Se projetar para liderar a luta
Pela reformulação do pensamento
A luta com a força de Ogum
A justiça de Shangô e negro vive
Sua Cultura, História e Movimento.
Na glória de seus resgatados
João Mulungu, no Panteão Brasileiro.
E um Orixá - OGUM DO COTINGUIBA.
Toca tambor
Toca atabaque
Toca agogô
Tocando rum
Salé filhos de África
No shirê para Mulungu.
Bate palmas
Minha gente
Samba e satisfação
E chegando Mulungu
Da falange de Ogum
Ogunhê
Ogum Deus das batalhas
A guerra ainda não findou
Ogum Rei das Estradas
Abre passagem para seu filho
Mulungu
Ogunhê
Bate palmas
Minha gente
Samba de satisfação
E chegando Mulungu
Da Falando de Ogum
Ogum, rê, rê, rê
Ogum jurou bandeira
Lá no Humaitá
Mulungu
Esta é uma das tantas
Manifestações da comunidade negra
Que a história esqueceu
E as histórias revividas repassam
Em busca de registro
Nas gerações que vêm.
O Negro Sergipano
Ainda não acordou, mas dá sinal.
No despertar recuperar
Sua cultura, seus Heróis, Líderes.
E Ancestralidade
Verá que a cor de sua pele
Não é bastante para encobrir
Sua cultura.
Mulato, pardo ou marrom.
A consciência de sua negritude
E sergipanidade das diversas
Culturas da África-Mãe
_____________________________________________________________________________
NOTA:
BIBLIOGRAFIA:
Conrado, Robert - Os últimos dias da Escravidão
Figueiredo, Ariovaldo - O negro e a violência do Branco
Nele, Maria - Suje uma alternativa de Liberdade (monografia)
_ Outros Mulungu, outros mitos (monografia)
Santos, Lourival-Notas sobre os Quilombos de Sergipe
Fontes Primarias:
_ Projeto de Lei do vereador Araújo apresentado a câmara Municipal de Aracaju.
_ Projeto de Lei do Prefeito Municipal Apresentado a câmara Municipal de Laranjeiras.
_ Projeto Lei da Deputada Suzana Azevedo apresentado a Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe.
_ Câmara Municipal de Laranjeiras Jornais
_ A TARDE
_ Universidade Viva – 1995.
Assinar:
Postagens (Atom)